Em comunicado a UNICEF refere que recebeu no início da semana um conjunto de crianças evacuadas de Afungi pelos Serviços Aéreos Humanitários da ONU, sendo que pelo menos sete destas crianças não estavam acompanhadas. Os relatos revelam que as crianças se encontravam desorientadas e com medo, muitas delas passaram dias escondidas no mato, sem comida e água.
Segundo a organização, a situação, que já era grave antes do recente ataque de Palma, ganha agora contornos ainda mais urgentes e desafiantes para as equipas da UNICEF no terreno. Há registo de situações atemorizantes vividas pelas crianças – algumas feridas – que foram retiradas do avião na chegada a Pemba.
Henrietta Fore, Directora Executiva da UNICEF, numa declaração à imprensa, afirmou que “Ainda não sabemos qual o verdadeiro impacto que o ataque mortal dos militantes em Palma, no norte de Moçambique, teve nas crianças, mas tememos que seja brutal. Palma já acolhia mais de 35.000 pessoas deslocadas vindas de outras zonas da província devido a ataques anteriores. Metade destas pessoas são crianças.”
“No Hospital Provincial de Pemba, as autoridades locais estão a fazer o possível para cuidar das crianças feridas. Já recebemos a notícia de que mais crianças estão a caminho. Não sabemos precisar quantas são. Mas, em conjunto com as autoridades locais, estamos a preparar-nos para os receber em Pemba, bem como em outras partes da província para onde sabemos que poderão ir. Estas crianças precisarão de absolutamente tudo – protecção, nutrição, cuidados de saúde e alguém para as ouvir e proporcionar apoio psicossocial. Crianças não acompanhadas precisam ser reunificadas com suas famílias”, explicou Marixie Mercado, consultora sénior de comunicação UNICEF, ontem em Genebra.
Beatriz Imperatori, Directora Executiva da UNICEF Portugal, salienta que “a situação em Moçambique é gravíssima. Além de todos os desafios que o território já enfrentava – como o alastrar da pandemia por Covid-19, o actual surto de cólera na província de Cabo Delgado (que está a evoluir para outras províncias) e a recuperação das catástrofes naturais – Moçambique enfrenta ainda as consequências de um conflito armado que já obrigou a deslocar cerca de 350.000 crianças. As populações locais têm vindo a enfrentar choque após choque – incluindo ciclones e eventos climáticos extremos, desde 2019.”
A UNICEF Portugal lançou recentemente um apelo para ajudar as crianças de Moçambique que, nos últimos dois anos têm sido afectadas pelas várias crises que assolaram o país – a violência do conflito armado em Cabo Delgado, ciclones, cheias, fome, pobreza extrema e surtos de cólera deixaram grande parte da população moçambicana em estado de urgente necessidade de assistência humanitária. Este apelo visa angariar fundos que permitirão às equipas da UNICEF continuar a apoiar local e diariamente estas crianças e as suas famílias.