O ministro da Defesa e Administração Interna, Arlindo Ramos, anunciou o desmantelamento de “um grupo de pessoas que premeditavam ações criminosas, visando essencialmente a pessoa do senhor primeiro-ministro e chefe do governo Patrice Trovoada”.
Segundo Arlindo Ramos, dois supostos integrantes do grupo foram presos. Gaudêncio Costa, membro da Comissão Política do MLSTP, deputado suplente do principal partido da oposição e ex-ministro da Agricultura, assim como o sargento Ajax Managem das Forças Armadas.
«Essas duas pessoas foram identificadas em reuniões de preparação para este assassinato (…). Esta ação premeditada e de assassinato do senhor primeiro-ministro surgem há alguns meses atrás. Foram identificados vários sinais de uma possível ação de instabilidade e nós, de acordo com a nossa missão, fizemos o nosso trabalho e conseguimos desmantelar este grupo», acrescentou Ramos em declarações à imprensa.
«Como o nosso papel não é fazer justiça, nós entregamos essas duas pessoas às instâncias judiciais [Ministério Público e Polícia Judiciária] para os devidos procedimentos», sublinhou.
O comunicado do Ministério da Defesa e Administração Interna indica que os “elementos recolhidos” revelam “cumplicidades nacionais e estrangeiras”, sem dar mais pormenores. No entanto, “as investigações continuam, de modo a trazer para a justiça todos os implicados”.
De acordo ainda com o documento, “as forças de defesa e segurança encontram-se de prevenção na defesa da legalidade, da Constituição e do Estado de Direito”.
«O país está calmo, sob o controlo do governo da república, devendo todos prestar a sua colaboração para preservação da paz e tranquilidade, características do nosso país», conclui a nota da instituição.
Entretanto, uma fonte do MLSTP/PSD disse a e-global que o partidodeverá se pronunciar nas próximas horas sobre o assunto. A Comissão Política reuniu-se na noite desta quinta-feira para analisar os contornos do anúncio governamental e tentar apurar a veracidade dos factos.
Vários observadores receberam a notícia com cepticismo. Por um lado, devido ao “historial de vitimização”, típico do perfil de Patrice Trovoada. Por outro, dia 21 foi o prazo que os militares tinham dado ao primeiro-ministro para resolver um conjunto de problemas no quartel, que o presidente da República, Evaristo Carvalho, também constatou na sua recente visita às forças militares e paramilitares.
De acordo com fontes bem informadas, os sargentos eram os que mais pressionavam na busca de soluções para os problemas dos quartéis.
Aparentemente, Gaudêncio Costa não parece ter capacidade financeira para custear um levantamento militar. Nos últimos tempos, ele tem-se deslocado em mototáxis. Porém, sabe-se que ele é um dos críticos mais incisivos da governação do ADI e do primeiro-ministro, pelas declarações efetuadas no parlamento.
O chefe do governo tem uma força particular para garantir-lhe a segurança e que integra militares ruandeses, segundo diversas fontes. Uma das viaturas da sua escolta acompanha-o com os vidros completamente fumados para não se distinguir os seus integrantes, em violação da legislação do país, nesse domínio.
A notícia sobre o desmantelamento de “uma tentativa de subversão da ordem constitucional, através do assassinato premeditado do chefe do governo” surge no momento em que o executivo anunciou o aumento do preço dos combustíveis, que vai encarecer ainda mais a vida para as populações, e há cerca de quatro meses das eleições, se o calendário for respeitado.
De recordar ainda que pesa sobre Patrice Trovoada, a acusação de ter sido um dos mentores e financiadores da tentativa de golpe de Estado em julho de 2013. Um dos objetivos era assassinar os ex-presidentes Fradique de Menezes e Pinto da Costa, assim como o coronel Óscar Sousa.
O escritor nigeriano, David Oladipupo Kuranga, falou do assunto na sua obra literária de investigação “The Power of Interdependence” e reconfirmado no ano passado por Peter Lopes, antigo operacional dos “Búfalos”. Este mostrou disponibilidade de vir a São Tomé prestar declarações no Ministério Público, desde que a instituição garantisse a sua segurança. Mas o Procurador-geral manteve-se no silêncio até agora.
No plano político, o governo está isolado. Os diversos atos de violação da ordem constitucional protagonizados pelo executivo e o parlamento, que mais recentemente aprofundaram a crise institucional com a interferência de órgãos de soberania nos Tribunais, mancharam seriamente a imagem do atual poder.