As Nações Unidas acusaram, na terça-feira, “elementos” do exército da República Democrática do Congo (RDC) da autoria da maior parte das valas comuns encontradas na região do Kasaï.
O relatório do Gabinete Conjunto de Direitos Humanos da ONU no Congo (UNJHRO) sugere pela primeira vez, diretamente, que as forças governamentais são responsáveis pelos túmulos.
O ministro dos direitos humanos da RDC não se disponibilizou para comentar, mas o governo negou repetidamente que as suas tropas fossem responsáveis pelas dezenas de valas comuns descobertas desde que a milícia Kamuina Nsapu se revoltou em agosto passado pedindo a partida das forças governamentais da área.
“A partir de 30 de junho de 2017, o UNJHRO identificou um total de 42 valas comuns nestas três províncias [do Kasai], a maioria dos quais teria sido escavada por elementos do exército congolês após confrontos com supostos membros da milícia”, refere o relatório.
No início deste mês, o UNJHRO anunciou a descoberta de mais 38 valas comuns na parte ocidental de Kasai, elevando o número total para 80.
Mais de 3.000 pessoas foram mortas e 1,4 milhão de pessoas foram deslocadas durante os conflitos, parte da crescente agitação que vive o país desde que o presidente Joseph Kabila se recusou a demitir-se quando o seu mandato expirou em dezembro.
O governo culpou a milícia pelas valas comuns e também afirmou que alguns dos locais identificados pelos pesquisadores da ONU revelaram não conter corpos. Nega também as alegações da ONU de que as suas tropas usaram sistematicamente força excessiva, embora um tribunal tenha condenado sete soldados este mês por assassinar membros suspeitos de milícias num massacre gravado em vídeo.
No mês passado, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU aprovou um inquérito internacional sobre a violência no Kasai. O Alto Comissário para os Direitos Humanos deverá em breve nomear uma equipa de especialistas para liderar as investigações.