“Turista” é um filme de guerra que poderia passar despercebido. Esta superprodução russa é um gigantesco projecto de propaganda de Moscovo que glorifica a “heróica” intervenção militar russa na República Centro-Africana (RCA).
Os militares russos são apresentados como os salvadores do caos centro-africano e que operam em sintonia com as forças armadas centro-africanas (FACA). Intencionalmente, os grupos rebeldes são diabolizados assim como a França é apresentada como a “mão oculta” na destabilização da RCA através de uma sinistra personagem, um “conselheiro francês”, que manipula os grupos rebeldes.
Todos os ingredientes de um filme de propaganda estão reunidos no “Turista”. A acção dos militares russos, compostos parcialmente por mercenários da empresa Wagner, a qual nunca é citada no filme, e cujos métodos são frequentemente denunciados por diversas ONG e sociedade civil centro-africana, são apresentados como simpáticos militares com uma vocação humanitária e respeitosa da população local, postura totalmente fictícia face à realidade no terreno.
Com esta superprodução de propaganda, maquilhada como um filme de acção, a Rússia pretende obter maior aceitação da população centro-africana à sua presença militar e importante ingerência política na RCA, mas também diabolizar actores incómodos para Moscovo na estabilização da RCA, tais como a Missão da ONU (MINUSCA) e a França, ex potência colonial.