Jornalista, deputada, mulher do mundo do entretenimento, Pamela Jiles ambiciona ocupar a primeira magistratura deste país. Irá conseguir?
Santiago – Modelos, cantores, desportistas, atores e comediantes fazem parte de uma longa lista de ocupações ligadas ao mundo do entretenimento, ou “show business”, que entraram com êxito relativo na política chilena, depois do regresso da democracia a 11 de março de 1990.
Para quem zela pelo ambiente político local, nestes tempos intensos de pandemia, recessão económica e tensão social, outra personagem do “show business” almeja muito alto, e aparentemente com opções de triunfo, a disputa à mais alta liderança do Estado.
Mais conhecida como A Avó, a jornalista e deputada Pamela Jiles (nascida a 30 de novembro de 1960, em Santiago) é uma das personagens mais controversas das últimas semanas, especialmente quando as pesquisas a colocam numa posição preferencial de um eleitorado descontente com a classe política.
Proveniente de uma família abastada, neta da precursora do voto feminino neste país e que em tempos de ditadura viveu um episódio de tortura por parte das forças de segurança, foi modelo no início da sua carreira e teve depois nome na área do jornalismo de investigação. Jiles utilizou a plataforma dos programas de entretenimento para lançar o seu “alter ego”, a personagem A Avó, a mesma que colocou-a na Câmara dos Deputados.
Rebelde (mas com causa e agenda), imprevisível, que confronta na maioria das vezes, Jiles afirma que se “joga” com a justiça social e reivindica as bandeiras feministas, batizando as suas seguidoras de “netinhas”, inclusive algumas muito mais velhas que ela.
“Como humanistas sentimos que isto só tem a ver com um fenómeno e que o Chile despertou”, disse a presidente do Partido Humanista, Catalina Valenzuela, para reforçar a aposta eleitoral desse grupo para com Jiles, depois de retirar-se da Frente Ampla, uma aliança que está a atravessar uma grave crise de identidade.
A loira de olhos azuis parece estar na mesma liga, ao lado dos nomes que estão no topo das sondagens de opinião, como Joaquín Lavín (prefeito de Las Condes) e Daniel Jadue (prefeito de Recoleta).
“Assim que ela conquistar, se conseguir, o poder, saberemos como é o mundo que Pamela imagina (…). Com uma comitiva que não atende a razões, mas apenas corações, ela pode fazer o que quiser e continuarão a segui-la. Um dia ela estará com a esquerda e outro com a direita, e irá apunhalá-las indistintamente para alcançar os seus fins. (…) Ela lida com a arte do bullying, com uma sofisticação sublime”, afirmou o analista Pablo Mackenna.
Fernando Peñalver