Para o suboficial e enfermeiro de combate, o apoio da namorada e da família foi fundamental. Ele não sentiu nenhuma discriminação por parte do Exército do Chile.
Santiago – Benjamín Ernesto Barrera (26) está a contar as horas para aquela que será a sua formatura como enfermeiro de combate no Exército do Chile. Isto não constitui uma grande transcendência noticiosa, à exceção de um detalhe: o Benja será o primeiro oficial transsexual de uma das forças armadas mais conservadoras do continente americano.
Com o apoio do Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh), Barrera fez o anúncio público na sede da antiga Escola Militar (1901-1958), que é hoje o Museu Histórico das Forças Armadas.
“Consegui entrar na Escola de Suboficiais. Assim que entrei contei tudo aos comandantes seniores sobre a minha transição e cirurgias. Até agora não tive qualquer tipo de discriminação”, disse o futuro suboficial, um pouco nervoso com a presença de jornalistas e de câmeras de TV, em uma das ondas de calor mais importantes da memória da cidade.
Barrera, que desde criança se sentiu sempre um homem, reconheceu que espera que as mudanças culturais em instituições como as Forças Armadas ou as Forças de Segurança não constituam mais uma novidade e que façam parte de uma evolução do pluralismo na sociedade chilena.
“Chegar aqui sem preconceitos e com o intuito de que isto se normalize para que, mais tarde, mais gente com as mesmas características que eu possam ter sucesso nas Forças Armadas, é um dos meus objetivos”, declarou Benjamín, que há cinco anos mantém um namoro com uma rapariga chamada Scarlet. Ela e a sua família têm sido os principais apoiantes na sua cruzada.
O nome de Barrera fará parte da lista de pioneiros militares trans. Basta lembrar o caso de Shane Ortega, que foi o primeiro oficial a ingressar no Exército dos Estados Unidos.
Os dirigentes dos direitos da comunidade LGBT enfatizaram que o ministro da Defesa Nacional, Mario Desbordes, mostrou-se recetivo aos pedidos desse conglomerado, tal como o atesta Rolando Jiménez, presidente da Movilh.
“Desde que conhecemos o esforço de Benjamin que estabelecemos contacto com o Exército, onde estão a implementar medidas para avançar na erradicação da discriminação por identidade de género. Esperamos que o Ministério da Defesa contribua para isso, estabelecendo protocolos claros e aplicáveis a todos os ramos das Forças Armadas. O ministro Mario Desbordes, em reuniões com a Movilh, mostrou-se disposto a fazê-lo”, disse Jiménez.
Perfil de Benjamín Barrera
O Movilh informou num comunicado de imprensa que Barrera nasceu em Buin a 27 de julho de 1993 e estudou no Colégio San Sebastián de Quilicura durante o ensino básico, enquanto o ensino médio decorreu no Liceu Gabriela Mistral de La Serena. Ingressou ativamente no bando de guerra, cumprindo assim o sonho de tomar o pulso a um interesse que tinha desde a infância.
Tendo sempre como meta a carreira militar, entre 2013 e 2016 estudou para Técnico de Enfermagem na AIEP de La Serena. Embora a família tenha sempre apoiado a sua identidade, Benjamín lembra que “no início foi um pouco difícil poder exercer a minha prática profissional com a minha identidade. Naquele momento não tinha rectificado a minha certidão de nascimento e tinha de usar um uniforme feminino”.
Semanas depois, no “meu segundo estágio, tudo mudou. Com a ajuda da coordenadora da Área de Saúde do AIEP, a senhorita Ingrid, consegui que passassem a chamar-me pelo meu nome social e antes de terminar a graduação mudei o meu nome e sexo legal, graças ao apoio jurídico do Escritório de Diversidade de Coquimbo, na altura a cargo de Felipe Cerda e Georgina Muñoz”, recorda.
Benjamín lembra que “consegui operar os meus órgãos genitais (genitoplastia masculinizante), um trabalho de excelência do qual hoje em dia me sinto plena e feliz, graças ao grande trabalho do urologista do hospital La Serena, Sergio Soler, que fez a minha cirurgia com o doutor Guillermo Mac Millan. Posteriormente, pude fazer ginecomastia no Hospital Coquimbo, onde se destaca o grande trabalho realizado pela enfermeira Carolina González
Fernando Peñalver