Indonésia: Protestos violentos em Papua deixam pelo menos 20 mortos

Os protestos violentos de centenas de pessoas provocados por rumores de que um professor insultou um estudante indígena na província indonésia de Papua, deixou pelo menos 20 civis mortos na segunda-feira, incluindo três que foram baleados pela polícia, disseram autoridades.

Uma multidão enfurecida incendiou prédios do governo local, lojas, residências, carros e motos em várias estradas que conduzem ao escritório do chefe do distrito na cidade de Wamena, informou o chefe de polícia de Papua, Rudolf Alberth Rodja.

Um porta-voz do exército de Papua, Eko Daryanto, disse que pelo menos 16 civis, incluindo 13 de outras províncias indonésias, foram mortos em Wamena, principalmente depois de terem ficado presos em casas ou lojas em chamas.

Segundo declarações de Daryanto, pelo menos um soldado e três civis morreram noutro protesto em Jayapura, a capital da província. Cerca de 65 civis ficaram feridos em Wamena e cinco polícias ficaram gravemente feridos em Jayapura, relatou.

Conflitos entre papuas indígenas e forças de segurança indonésias são comuns na empobrecida região de Papua, uma ex-colónia holandesa na metade ocidental da Nova Guiné que é étnica e culturalmente distinta de grande parte da Indonésia.

Imagens de televisão mostravam chamas alaranjadas e fumo preto subindo dos prédios em chamas em Wamena, e vídeos que circulavam na internet mostravam dezenas de pessoas, muitas armadas com facões, em frente a lojas e casas para protegê-las da multidão enfurecida.

O chefe Rodja especificou que a agitação foi precipitada por rumores de que um professor do ensino médio em Wamena, que não é de Papua, chamou “macaco” a um estudante indígena na semana passada.

De acordo com o responsável uma investigação policial não encontrou nenhuma evidência de racismo contra o aluno e acrescentou que foram criados e espalhados rumores falsos em outras escolas e comunidades indígenas com a intenção de causar distúrbios violentos.

“Isso é uma farsa, e apelo às pessoas em Papua para que não sejam provocadas por notícias falsas”, apelou Rodja em declarações aos jornalistas em Jayapura, capital da província de Papua.

Joko Harjani, funcionário do aeroporto, disse que o protesto obrigou as autoridades a fechar o aeroporto da cidade até que a situação volte ao normal.

A manifestação ocorreu dias após as autoridades indonésias terem conseguido controlar a província após semanas de violentos protestos de milhares de pessoas nas províncias de Papua e Papua Ocidental que se queixaram de racismo em relação aos papuas. Pelo menos um soldado indonésio e quatro civis foram mortos nessa onda de violência.

Os protestos anteriores foram desencadeados por vídeos divulgados na internet que mostravam as forças de segurança chamando os estudantes de Papua de “macacos” e “cães” na cidade de Surabaya, Java Oriental, enquanto invadiam um dormitório universitário onde se encontravam estudantes papuanos, após uma bandeira indonésia rasgada ter sido encontrada num esgoto.

Os vídeos levaram centenas de papuas que estudam em outras províncias da Indonésia a voltar para casa, forçando uma universidade estatal local a acomodá-los.

A Papua foi incorporada à Indonésia em 1969, depois de uma votação patrocinada pelas Nações Unidas que foi amplamente vista como uma farsa. Desde então, instalou-se uma revolta na região rica em minerais, dividida em duas províncias, Papua e Papua Ocidental.

Nos últimos anos, alguns estudantes de Papua, incluindo aqueles que estudam em outras províncias, pediram autodeterminação para sua região.

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