As vidas dos cristãos estão sob ameaça em 19 estados da Índia, e as organizações de defesa dos direitos humanos mostram-se apreensivas para o aumento de intolerância e de ataques à liberdade religiosa a poucas semanas das eleições no país mais populoso do mundo.
Nos primeiros 75 dias deste ano foram relatados 161 incidentes de discriminação e de perseguição contra os cristãos na Índia, de acordo com um documento do Fórum Cristão Unidos para os Direitos Humanos (UCF), uma organização ecuménica indiana que monitoriza a perseguição contra esta comunidade religiosa. Os incidentes foram da responsabilidade de indivíduos mas também de órgãos públicos, e quase 30 por centos dos casos ocorreram no estado de Chhattisgarh.
O documento, enviado à Fundação AIS, refere que o país está a poucas semanas do início das eleições nacionais – que decorrerão de 19 de Abril a 1 de Junho –, uma altura em que as tensões sociais já tendem a aumentar, pelo que se apela às autoridades nacionais para que garantam igual proteção e direitos a todos os cidadãos, independentemente da sua crença.
“Enquanto UCF, pedimos aos nossos líderes que ponham fim a esta violência, tomando medidas rigorosas contra os autores de todos estes crimes, e esperamos e rezamos por eleições pacíficas e justas”, lê-se na declaração enviada à Fundação AIS. O texto refere que há 19 estados na Índia onde “os Cristãos enfrentam ameaças à sua vida por praticarem a sua fé”.
O primeiro estado líder em agressões contra cristãos – com 47 incidentes registados – é Chhattisgarh, “um estado mal-afamado pela ostracização social dos Cristãos”, onde houve mesmo casos de aldeões que negaram aos seus vizinhos o direito de enterrar os seus mortos de acordo com os ritos cristãos.
Outra das questões alarmantes referidas no relatório prende-se com as detenções de cristãos acusados falsamente de conversões ilegais. No período em análise houve 122 casos, sendo que Uttar Pradesh foi um dos estados onde se registaram mais detenções.
PERSPETIVAS SOMBRIAS PARA A LIBERDADE RELIGIOSA
A Índia é um dos países mais preocupantes do Relatório da Liberdade Religiosa 2023 da Fundação AIS, sendo o “governo autoritário” e o “nacionalismo étnico-religioso” apontados como os principais factores de perseguição. “A comunidade cristã na Índia continua a ser alvo de violência e de crimes de ódio”, afirma o relatório, acrescentando que “a difusão da filosofia Hindutva, defendida pelo grupo Hindutva Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), é, em grande medida, a principal causa desta perseguição crescente contra os Cristãos.. O Hindutva, uma forma de nacionalismo hindu de direita, é intolerante em relação a outras religiões ou culturas. O BJP, que chegou ao poder em 2014, aceita esta abordagem ideológica e o seu sucesso político facilitou a retórica e a acção religiosa-nacionalista”.
O relatório explica ainda que “a Índia é um exemplo de ‘perseguição híbrida’, onde tanto medidas pseudo-legais como ataques sangrentos são perpetrados contra cidadãos indianos com a religião ‘errada’”, concluindo que “as perspetivas de liberdade religiosa, portanto, continuam a parecer negativas”.
A Fundação AIS apela os seus amigos e benfeitores à oração, para que o período eleitoral na Índia decorra da melhor forma possível e em segurança e, sobretudo, para que as minorias religiosas, incluindo os Cristãos, vejam os seus direitos humanos e de cidadania plenamente respeitados e defendidos.
CAMPANHAS EM PORTUGAL
A situação dos cristãos na Índia tem motivado várias campanhas e iniciativas por parte da fundação pontifícia não só para a ajuda direta a esta comunidade religiosa mas também para a sensibilização da opinião pública para uma realidade que é, por vezes, praticamente desconhecida.
Em 2018, por exemplo, durante o período da Quaresma, o secretariado português da AIS promoveu uma grande campanha – “Amar os invisíveis” – sobre a situação terrível em que vivem grande parte dos ‘dalits’, os mais pobres dos pobres na Índia, também conhecidos como “intocáveis”, e que estão na base do complexo sistema de castas deste país.
Calcula-se que dos 29 milhões de cristãos que há na Índia, cerca de 60 por cento sejam ‘dalits’ e como a Fundação AIS procurou demonstrar lutam desesperadamente pela sobrevivência no dia-a-dia pois só conseguem normalmente trabalhos indignos e muito mal pagos.
Paulo Aido e Filipe D’Avillez – Fundação AIS