Conforme noticiado ontem (aqui), um navio de carga contendo milhares de armas, explosivos e munições foi intercetado pelas autoridades gregas no passado dia 28 de fevereiro.
De acordo com fontes gregas e turcas citadas pelo site ‘The Fifth Column, o navio, designado: ‘Kukui Boy’, tinha pavilhão do Togo e deixou o porto de Izmir na Turquia com destino ao norte do Líbano.
O navio foi intercetado pela autoridade portuária de Chania que, reportadamente, confirmou a existência de documentação que atestava a legalidade de pelo menos parte do carregamento de armas, restando, contudo, dúvidas sobre a sua legitimidade, bem como se a totalidade do carregamento estaria registado.
Este incidente é em tudo semelhante ao que ocorreu no ano passado, quando, em setembro, a guarda costeira grega intercetou a embarcação “Haddad 1”, com pavilhão boliviano, que transportava armamento não declarado da Turquia para a Líbia. Na altura, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco alegou que todas as armas eram destinadas às forças de segurança sudanesas e estariam documentadas, mas no carregamento constavam materiais de construção destinados à Líbia cuja documentação referia Misrata com destino final, cidade que é controlada pela milícia Libya Dawn, filiada no Estado Islâmico.
Além deste destino suspeito, no registo marítimo desta embarcação, segundo a base de dados de transparência marítima Equasis, constam duas empresas com o mesmo endereço postal e sem número de telefone. Uma das empresas, a ISM Hellenic, opera várias embarcações com pavilhões de uma variedade de países, tais como: Togo, Tanzânia e Bolívia, que estão proibidos de aportar em portos europeus.
Este envolvimento turco no envio de uma quantidade significativa de armamento de combate para o norte do Líbano não pode ser dissociado dos últimos desenvolvimentos, noticiados aqui, relacionados com o posicionamento do conjunto das monarquias sunitas do Golfo face a este país que alberga a milícia shiita Hezbollah e cujo governo é aliado do Irão.
Hoje mesmo, o Conselho de Cooperação do Golfo declarou o Hizbullah uma ‘organização terrorista’, o que acontece depois de todos os Estados-membro do Conselho terem emitido alertas aos seus cidadãos para abandonarem o Líbano por razões de segurança.
De acordo com estes desenvolvimentos, começa a tomar forma a existência de um plano concertado entre os aliados sunitas do Golfo e a Turquia com o objetivo de reverter os avanços do regime sírio, apoiado pelo Irão e pela Rússia, no conflito sírio. Este plano, que podemos designar como Plano B, uma vez que poderá servir por contornar as dificuldade de uma intervenção direta da Arábia Saudita e da Turquia em solo sírio, passará por destabilizar o Líbano a partir da região norte, maioritariamente sunita, tendo como objetivo abrir um novo flanco de conflito com o Hizbullah e o governo xiita de Beirute, o que, além de arrastar o Líbano para o conflito regional, irá ter, certamente, consequências para o desenvolvimento do conflito na Síria