Responsável pela ACNUR cobra “maior apoio” à América Latina

A vice-alta comissária da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Kelly T. Clements, cobrou mais apoio aos países da América Latina e do Caribe que abrigam a maior parte dos 20 milhões de pessoas “deslocadas à força” nas Américas.

“Embora o aumento no número de pessoas que se aproximam da fronteira dos Estados Unidos tenha atraído muita atenção, é importante lembrar que a maioria das pessoas deslocadas à força na região permanece na América Latina”, disse Clements, que reiterou que “precisamos olhar não apenas para os países de destino das pessoas refugiadas e migrantes, mas também para os países de onde eles vêm e por onde transitam. Os desafios colocados pelos complexos movimentos populacionais nas Américas devem ser abordados a partir de uma perspetiva regional abrangente e colaborativa”.

Clements começou a sua viagem pelo Brasil a visitar pessoas refugiadas do Afeganistão no aeroporto internacional de São Paulo e num dos 11 abrigos que acolhem afegãs fornecidos pelas autoridades públicas e da sociedade civil. No estado de Roraima, no Norte do país, Clements conheceu refugiados e migrantes que cruzavam a fronteira com a Venezuela em busca de proteção e ajuda, e observou a resposta humanitária e de integração fornecida pela “Operação Acolhida” do Brasil. Atualmente, o Brasil abriga 623 mil refugiados reconhecidos, solicitantes da condição de refugiado e outras pessoas que necessitam de proteção internacional, incluindo 459 mil da vizinha Venezuela.

Durante a visita, Clements também reuniu-se com parceiros do setor privado, contrapartes governamentais e outros parceiros. “O Brasil tem mostrado uma liderança excecional na receção, inclusão e integração de refugiados e migrantes da Venezuela e de outros países”, disse.

“O ACNUR tem orgulho de trabalhar em estreita colaboração com parceiros para atender às principais necessidades das pessoas em deslocamento e fornecer soluções que lhes permitam contribuir para o desenvolvimento das comunidades que as acolhem”, comentou.

No Panamá, Clements visitou a região de Darien, onde mais de 150 mil pessoas chegaram desde o início do ano, arriscando as suas vidas caminhando pela densa selva em busca de proteção, segurança e uma vida melhor. No Darien, Clements também visitou uma comunidade indígena panamenha que acolhe refugiados da vizinha Colômbia. Na Cidade do Panamá, ela encontrou-se com pessoas deslocadas à força de diferentes nacionalidades que estão a utilizar as suas habilidades e talentos para reconstruir suas vidas.

“O Panamá está enfrentando um desafio sem precedentes para responder e proteger as pessoas em deslocamento. Para os já estabelecidos no país, a integração pela inclusão é fundamental. Para aqueles que se deslocam, o ACNUR e seus parceiros apoiam o governo do Panamá na prestação de ajuda humanitária aos que estão em situação de maior vulnerabilidade”, disse Clements.

“É fundamental continuar apoiando iniciativas na América Latina, que proporcionem estabilidade e soluções, como o aumento das vias legais”, concluiu Clements, que sublinhou que “embora tudo isso seja de vital importância, não devemos esquecer de abordar as causas profundas que levam ao deslocamento forçado. Isso significa cooperação para prevenir e resolver conflitos, mas também ações urgentes para enfrentar os efeitos da mudança climática, melhorar a governança, a igualdade e o respeito pelos direitos humanos”.

Ígor Lopes

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