A Turquia, através do seu presidente, Recep Tayyip Erdogan, tem procurado atuar com um mediador do conflito Ucrânia-Rússia. O seu discurso oficial tem sido pautado por críticas a diferentes lados, referente à ação russa, afirmou que não seria possível “justificar os atos de agressão à soberania de um país vizinho” e rejeitando todas as “medidas ilegais que comprometem a integridade territorial da Ucrânia, começando pela anexação da Crimeia”.
No que concerne a acção da União Europeia e da OTAN, Erdogan aponta à ausência de uma ação pensada e determinada para fazer face à invasão da Ucrânia pela Rússia, tendo inclusive já pedido uma reforma que anule o direito de veto no Conselho de Segurança da ONU.
Pelo estilo como se tem posicionado e dialogado com os diferentes líderes, Erdogan evidencia que a forma de resolver este conflito é através da diplomacia e assume o seu compromisso “com a continuação dos contactos e conversações diplomáticas”, assegurando o papel da Turquia “para reduzir a tensão”. As suas palavras condizem com as acções, já que em março a Turquia acolheu as primeiras conversações diretas entre os chefes da diplomacia russa e ucraniana, respetivamente Sergei Lavrov e Dmytro Kubela. Porém, os dois ministros não conseguiram concordar num cessar-fogo, mas prometeram prosseguir o diálogo entre os dois países.
Conhecidas as exigências russas, e em contacto com os Presidentes Russo e Ucraniano, o esforço recente do Presidente Turco tem sido o de conseguir estabelecer um encontro (preferencialmente presencial) entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky. Se Erdogan conseguir alcancar o feito de estabelecer o primeiro contacto entre presidentes e participar na resolução do conflito vê a sua imagem de líder soberano projetada de forma positiva no panorama internacional, sendo a Turquia considerada um país de interesse para o plano estratégico de grandes potências como os Estados Unidos, a Rússia e alguns países europeus. E em especial, no panorama interno, onde o país ainda se encontra a enfrentar uma crise económica e, do ponto de vista político, verifica uniões entre diferentes partidos da oposição para as eleições de 2023, vendo assim pela primeira vez em 20 anos a sua hegemonia ameaçada, pois as recentes sondagens que atribuem ao seu partido valores não muito distantes dos partidos da oposição.
Assim, o desempenhar do papel importante de mediador na resolução deste conflito ajudaria Erdogan a reconquistar a hegemonia interna, dando ímpeto para as difíceis eleições que se avizinham, bem como reforçar o poder diplomático internacional.