A Turkish Airlines (THY) foi criada como parte integrante do departamento do Ministério da Defesa em 1933 e evoluiu para uma companhia aérea que voa para 334 destinos em 128 países, em 2021. O número de destinos triplicou sob o governo do Partido AK, voando apenas para 103 destinos em 2003. A THY é um dos principais impulsionadores do comércio externo e do turismo na Turquia, com suas operações a crescerem significativamente nas últimas duas décadas.
A voar para 334 destinos diferentes, a THY atende à mobilidade de pessoas e mercadorias entre a Turquia e o resto do mundo. Mesmo durante a pandemia, em 2020, a taxa de ocupação da THY ficou acima de 70%, apenas dez pontos abaixo do que em 2019. Durante a pandemia, a empresa focou-se em aprimorar as suas operações no setor de mercadorias e ampliou a sua participação na Freight Tonne Kilometers (FTK) para 4,4% numa escala global, tendo ficado em sexto lugar no mundo em 2020. Apesar de ter sofrido prejuízos de $836 milhões em 2020, devido ao impulso nas operações de carga e à recuperação da mobilidade após a pandemia, conseguiu obter um lucro de $959 milhões em 2021.
A THY ficou em segundo lugar, depois da Ryanair na Europa, com seus 938 voos por dia em 2021. Respectivamente, Air France e Lufthansa ficaram em terceiro e quarto lugar com 648 e 617 voos. A posição da Turquia como destino turístico e o fato de ser um ponto de passagem entre a Ásia, África e a Europa, dá à THY uma vantagem para usar uma estratégia agressiva.
THY como instrument de soft power
A transportadora de bandeira turca está aberta ao público e é negociada no mercado de ações, mas 49% dela ainda pertence ao Fundo de Riqueza da Turquia, o que a torna uma ferramenta política flexível para Ancara. O governo detém ainda o poder para nomear o CEO da empresa e influenciar o processo de tomada de decisão. A empresa é vista como um instrumento de soft power que contribui para a imagem da Turquia. Isso pode ser facilmente observado nas declarações oficiais. Dirigindo-se aos representantes da THY, em 2018, o presidente Recep Tayyip Erdogan disse que “ter uma rede mais ampla do que o número de missões diplomáticas da Turquia no mundo, o sucesso de nossa companhia aérea nacional, bem como seus fracassos, afetam diretamente a reputação de nosso país. Portanto, é necessário que estejam cientes de vossas responsabilidades nos campos da diplomacia, cultura e história e adquiram os conhecimentos necessários, além de vossa missão comercial”.
No início de 2010, a companhia aérea começou a focar-se no continente Africano. Um dos principais objectivos era o de estimular o comércio entre a Turquia e os países africanos. A partir de 2021, a THY voa para 39 países diferentes na África. Numa entrevista em 2013, o então presidente do conselho da empresa, Hamdi Topçu, dá o exemplo da Tanzânia e diz que após o início dos voos, as exportações da Turquia para este país aumentaram 349%. Anteriormente, as exportações da Turquia para a Tanzânia eram de $55 milhões em 2009, mas em 2021 chegou aos $249 milhões. A introdução de novos destinos não estimula apenas a mobilidade de pessoas, como também apresenta soluções alternativas para os problemas de logística.
O papel da THY na guerra ucraniana
A THY desempenhou um papel crítico durante os tempos de crise na história republicana turca. O mesmo é válido para a guerra na Ucrânia. Milhares de cidadãos turcos ficaram presos no país quando os bombardeamentos começaram a 24 de fevereiro. Não sendo possível voar para os aeroportos da Ucrânia, a THY aumentou o número de voos para Bucareste para evacuar civis em coordenação com o Ministro das Relações Externas. Além disso, 130 funcionários da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que foram destacados na Missão de Monitorização Especial para a Ucrânia, também foram transferidos para Istambul através de um voo especial a partir de Sochi, na Rússia.
A THY suspendeu os voos para a Ucrânia, Moldávia, Bielorrússia e para as cidades russas de Rostov e Sochi por razões de segurança, após o início da guerra. No entanto, a companhia aérea decidiu aumentar a frequência e a capacidade de seus voos para São Petersburgo, Moscovo e Kazan, na Rússia, após os embargos europeus às transportadoras russas. Atualmente, os russos que querem ir para a Europa organizam os seus transportes a partir de Istambul, por ser o destino mais próximo da Europa. Além disso, a THY reiniciou seus voos para Yekaterinburg, uma cidade russa nos Urais.
Tentando manter os canais de diálogo abertos com Kiev e Moscovo, Ancara procura reduzir os impactos da guerra na economia turca, pois os russos estão no topo da lista de turistas habituais. Em 2019, sete milhões de turistas da Rússia visitaram a Turquia. Devido à pandemia, esse número diminuiu para 4,7 milhões em 2021, enquanto 2,06 milhões de turistas vieram da Ucrânia para a Turquia no mesmo ano.
Hasan Selim Özertem
Analista político
hozertem@gmail.com