Na sequência de relatos de experiências “perturbadoras e humilhantes”, “discriminação” ou “tratamento desumano”, apontadas a Pequim por vários países africanos devido aos supostos maus-tratos aos quais cidadãos africanos foram submetidos em Cantão, no sul da China, o ex-primeiro-ministro do Chade e presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, pediu, no sábado, ao representante chinês dessa organização, Liu Yuxi, que expresse “a nossa extrema preocupação” com essas alegações e solicite “medidas corretivas imediatas“.
Nações como o Quénia, Uganda, Nigéria, Serra Leoa ou Gana também escreveram individualmente a Pequim ou telefonaram para o embaixador chinês no seu país perguntando que medidas estão a ser tomadas para proteger os imigrantes africanos presentes no país asiático.
Segundo relatos na imprensa e nas redes sociais, os problemas recentes começaram no início de abril, quando se espalhou a notícia de que um nigeriano infetado por coronavírus atacou brutalmente uma enfermeira enquanto tentava escapar do hospital em que estava isolado. Dias depois, soube-se que cinco outros nigerianos tinham estado em vários restaurantes, hotéis e locais públicos antes de testar positivo para o Covid-19. Isso levou à colocação em quarentena de quase 200 pessoas e a triagem de outras 1.700.
Receando o surgimento de um surto, as autoridades chinesas elevaram o nível de risco dos dois bairros mais populosos de comunidade africana (Yuexiu e Baiyun), de baixo para médio. Desde então, muitos africanos aí residentes relatam ter sido forçados a desocupar as suas casas da noite para o dia, rejeição sistemática em hotéis da cidade, assédio policial nas ruas ou que foram repetidamente testados para o coronavírus sem que lhes tenha sido informado os resultados.
Numa carta enviada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na sexta-feira, os embaixadores em Pequim de vários países africanos exigiram a “cessação imediata” de “testes forçados, quarentena e outros tratamentos desumanos” aplicados aos seus cidadãos. Essa “estigmatização e discriminação” cria a falsa impressão de que os africanos estão a propagar o vírus, acrescentam os signatários.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China apenas reconheceu a existência de “mal-entendidos” com a comunidade africana. Segundo o seu porta-voz, Zhao Lijian, “tratamos todos os estrangeiros de igual forma na China. Rejeitamos o tratamento diferenciado e temos tolerância zero à discriminação.”