Moçambique – As vítimas de uma insurgência sangrenta.

A constatação do aumento do controlo de zonas urbanas de Cabo Delgado, por parte da insurgência, continua a ser incompreensível. Os sequestrados da insurgência têm vindo a relatar factos quase surreais, que o poder político, a comunidade internacional e o cidadão comum têm dificuldade em aceitar e atribuem aos efeitos psicológicos do cativeiro… infelizmente o sangue derramado diariamente por inocentes corresponde à verdade pura e dura.

A insurgência tem concretizado as ameaças realizadas, mas as autoridades nunca acreditaram que teriam capacidade para tomar de assalto o norte do país e talvez massacrar populações inteiras.

No momento existe a dúvida sobre se haverá ou não um ataque a Mueda. Elementos das FADM mais otimistas referem, de forma algo ingénua segundo os descrentes, que tal não acontecerá pois os líderes insurgentes terão a noção que poderiam perder muitos elementos, pois existem muitas forças militares em Mueda que susteriam um primeiro ataque.

Contudo não tem sido essa a estratégia da insurgência, com a exceção do primeiro ataque a Mocimboa da Praia. A progressão no terreno tem-se baseado em técnicas de guerrilha de ataque e fuga e progressão faseada no terreno, acompanhada pelo massacre e pilhagem das populações para depauperar as zonas atacadas, auto abastecimento de armas e bens essenciais e disseminação do terror.

Em todas as zonas atacadas, mas não ocupadas, impera o medo do regresso dos insurgentes. Esse é o seu objetivo: desestabilizar as regiões de interesse económico, criando o espectro de uma presença efetiva e duradoura.

Os ataques tem sido precedidos de missões de reconhecimento e, segundo lamentos de elementos das autoridades estabelecidas em Mueda, espera-se uma aproximação escalonada para formar um cerco e a infiltração de elementos da insurgência na capital de distrito, para tentar um eventual primeiro ataque ainda que de reduzido impacto.

Poderá ser esta uma missão suicida? Exato. Para estes jovens endoutrinados pelo ódio, a morte será o seu único momento de glória de uma vida miserável e sem horizontes. O objetivo destes jovens é morrer, dizem diversos cativos que conseguiram evadir-se dos centros de sequestro da insurgencia. Como se consegue combater alguém para quem morrer matando é um objetivo?

Dizem estes sequestrados que cada missão bem sucedida é contada pelos insurgentes, como feitos gloriosos que influenciam outros a fazer igual ou pior. Cada ataque atinge um patamar superior de selvajaria.

Referem ainda que os insurgentes aspiram, influenciados pelos chefes insurgentes presentes nos centros de detenção e por outros que os visitam com regularidade, a atacar zonas urbanas de importância estratégica.
Assim aumenta o receio de tentativas de ataque a Mueda, Palma e Pemba, esta última capital da província e um importante ponto para controlar também o espaço marítimo.

Embora estas sejam especulações de quem, pela força, conviveu com os insurgentes, a forma de atuar da insurgencia já demonstrou a importância que tem o espaço marítimo para aumentar a sua influência e meios de controlo de alargadas zonas geográficas.

Traumatizados com o que sofreram, desde os ataques as suas aldeias, estes sequestrados tem medo que num eventual ataque a outras zonas habitacionais os insurgentes possam vir a usar a população como escudo humano e a intensificar os sacrifícios humanos como as decapitações.

A preocupação destas testemunhas/vítimas e ainda maior pois perceberam os insurgentes tem acesso a informações relativas a atuação das FADM.

Considerando que a realidade tem ultrapassado as especulações das populações, dos militares e mesmo de Maputo e da comunidade internacional, urge intervir de forma adequada para proteger, se não os interesses económicos, o que se constitui como a principal riqueza de um país: a sua população.

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