As condições meteorológicas afetam a produção de alimentos e, à medida que o aquecimento global e as mudanças climáticas avançam, crescem as preocupações sobre como a agricultura vai enfrentar as condições extremas do clima. Fenómenos como tempestades, inundações, geadas fora de época e ondas de calor têm condicionado, em algumas partes do mundo, a produção de vários alimentos como tomates, batatas, milho, pêssegos, uvas e azeitonas. O preço final desses produtos, como o do azeite, por exemplo, disparou.
Como destaca a publicação Wired, a preocupação sobre como a agricultura vai sobreviver às mudanças climáticas não é nova. Em 2019, a Comissão Global sobre Adaptação – um grupo de investigação independente patrocinado pelas Nações Unidas, pelo Banco Mundial e pela Fundação Bill & Melinda Gates – previu que as alterações climáticas devem reduzir os rendimentos agrícolas em 30% até 2050 e que o impacto será mais forte sobre os 500 milhões de pequenos agricultores em todo o mundo.
Nesse mesmo ano, cientistas da Austrália e dos EUA descobriram que os choques na produção alimentar, traduzidas em quedas súbitas e imprevisíveis na produtividade, têm aumentado todos os anos, desde a década de 1960.
O Reino Unido e Irlanda registaram a escassez de tomates, após um período prolongado de frio, e Espanha e Marrocos desistiram da colheita do mesmo produto. Em junho, produtores de batata, na Irlanda do Norte, afirmaram que o tempo seco reduziu as colheitas, causando um prejuízo de 4,4 milhões de libras. Na Índia, o preço da fruta subiu 400%, após uma série de colheitas desastrosas, e as chuvas torrenciais impossibilitaram a colheita de milho.
A perda de áreas de cultivo tradicionais, estimada em cerca de 30%, num cenário de aquecimento global moderado, não vai afetar apenas as principais culturas básicas. Produções especiais, como as azeitonas e as laranjas, também estão em risco, assim como as culturas que constituem a base para o luxo.
Em setembro, as autoridades agrícolas espanholas afirmaram que o país, líder mundial na produção de azeite, teria uma colheita de azeitonas abaixo do normal, pelo segundo ano consecutivo. Em outubro, o governo do Peru, o maior exportador mundial de mirtilos, afirmou que a produção anual daquele produto foi metade da prevista. Na Europa, na Austrália e na América do Sul, a produção de vinho caiu para os níveis mais baixos desde a década de 60 do século passado.
Recentemente, durante a COP28, no Dubai, 134 países apresentaram um acordo para integrar um plano de agricultura sustentável, que prevê adaptações para os sistemas de cultivo e para as próprias plantas. Ainda assim, a preocupação dos cientistas é que alguns alimentos não consigam esperar o tempo necessário para essas adaptações, já que se trata de um processo adaptativo naturalmente moroso.
