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Guiné-Bissau sob pressão dos EUA para aceitar deportados de países terceiros

Poucos dias antes da realização da mini-cimeira entre os Estados Unidos e cinco países africanos em Washington, segundo informações divulgadas pelo Wall Street Journal, a administração norte-americana de Donald Trump terá imposto uma condição sensível aos Estados convidados, aceitarem receber cidadãos de países terceiros deportados dos Estados Unidos.

Entre os países visados, encontra-se a Guiné-Bissau, cujo presidente Umaro Sissoco Embaló está a ser pressionado a acolher imigrantes ilegais que não são guineenses, bem como criminosos condenados e que cumpriram penas nos EUA, mas que os Estados Unidos não conseguem os repatriar para seus países de origem.

Segundo fontes citadas pelo Wall Street Journal (WSJ), a exigência norte-americana faz parte de uma estratégia mais ampla da administração Trump de endurecimento das políticas migratórias e de contenção da imigração ilegal. A medida pretende reduzir o número de migrantes indocumentados nos Estados Unidos, especialmente aqueles cujos países de origem não estão dispostos a os receber após a ordem de deportação americana.

“Se os países não aceitarem esses migrantes, os EUA poderão aplicar sanções, como restrições de vistos e suspensão de assistência”, indicou uma fonte do Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security, DHS) citada de forma anónima pelo WSJ.

Para a Guiné-Bissau, que está perante fragilidades sistémicas e problemas crónicos em termos de segurança, economia e governação, aceitar acolher cidadãos de países terceiros deportados dos EUA poderá representar um risco acrescido. Especialistas alertam para a possibilidade de abertura de um perigoso precedente e de tensões sociais, quando já enfrenta problemas na gestão da sua própria diáspora e da migração regional.

“Receber deportados que não são guineenses poderá criar problemas diplomáticos com países vizinhos, além de riscos de segurança e integração social”, considerou a analista política Amara Silva, da Georgetown University African Studies Program, ouvida pelo WSJ.

Embora o governo de Bissau ainda não tenha pronunciado oficialmente sobre a proposta norte-americana, analistas em Washington destacam que a Guiné-Bissau pode encarar esta exigência como o preço a pagar para obter apoio económico e político dos EUA, que poderá ser traduzido em ajuda ao desenvolvimento, luta contra o narcotráfico e reformas institucionais.

A estratégia da administração Trump segue o método já aplicado em outros dossiers da sua política externa, em que incentivos económicos ou diplomáticos são usados como forma de obtenção de compromissos migratórios por parte de países estrangeiros. Em 2019, o Washington Post revelou que países como Honduras, El Salvador e Guatemala foram alvo de pressões semelhantes para assinarem acordos conhecidos como Safe Third Country Agreements, permitindo aos EUA transferirem, entre outros, solicitantes de asilo para esses países.

“É uma forma de terceirização da política de imigração, empurrando responsabilidades para países que, muitas vezes, não têm os meios ou o interesse em assumir tais encargos”, explicou Sarah Pierce, investigadora no Migration Policy Institute.

A mini-cimeira de Washington reuniu os presidentes da Guiné-Bissau, Libéria, Senegal, Mauritânia e Gabão. Embora a agenda oficial tivesse incluído temas como segurança regional, comércio e boa governação, fontes diplomáticas indicam que o dossier migratório, e das deportações, dominou os bastidores do encontro.

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