Um novo estudo aponta que o planeta poderá enfrentar cerca de dois meses extra de dias de calor extremo por ano até ao final do século, com os países mais pobres a sofrerem de forma desproporcional — apesar de serem os que menos contribuem para as emissões de gases com efeito de estufa.
A investigação, conduzida pela organização internacional World Weather Attribution em parceria com a norte-americana Climate Central, utilizou simulações informáticas para avaliar o impacto do Acordo de Paris, assinado há dez anos, nas ondas de calor globais.
Segundo o relatório, se os compromissos atuais de redução de emissões forem cumpridos, o aquecimento médio do planeta poderá atingir 2,6°C acima dos níveis pré-industriais, o que resultaria em mais 57 dias extremamente quentes por ano. Sem o acordo de Paris, esse número poderia chegar a 114 dias adicionais.
Os cientistas definem dias de calor extremo como aqueles que superam 90% das temperaturas registadas entre 1991 e 2020. Desde 2015, o planeta já soma em média 11 dias a mais desse tipo de calor.
“Esse calor leva pessoas para os hospitais e mata”, afirmou Kristina Dahl, vice-presidente de ciência da Climate Central. A investigadora sublinha, no entanto, que o progresso desde o Acordo de Paris é um sinal encorajador, ainda que insuficiente.
O estudo revela também que os impactos não serão distribuídos de forma equitativa. Países pequenos e insulares, como as Ilhas Salomão, Samoa e Panamá, deverão enfrentar até 149 dias adicionais de calor extremo, apesar de contribuírem com apenas 1% das emissões globais. Já grandes emissores, como os Estados Unidos, China e Índia, terão entre 23 e 30 dias adicionais, embora sejam responsáveis por 42% do dióxido de carbono na atmosfera.
Para Andrew Weaver, cientista climático da Universidade de Victoria, o estudo confirma a desigualdade climática global: “As nações em desenvolvimento, que pouco contribuíram para o problema, serão as mais afetadas.”
Mesmo com os avanços registados, especialistas alertam que o cenário atual continua alarmante. Johan Rockstrom, diretor do Instituto Climático de Potsdam, avisa que um aumento de 2,6°C “ainda representaria um futuro desastroso para bilhões de pessoas em todo o mundo.”
