Investigadores brasileiros identificaram no veneno do escorpião amazónico Brotheas amazonicus uma molécula capaz de destruir células de cancro da mama com uma eficácia comparável à da quimioterapia tradicional.
Os primeiros resultados, apresentados durante a Semana FAPESP França, mostram que o composto provoca sobretudo necrose das células tumorais, comportamento já observado em toxinas semelhantes de outras espécies de escorpiões. A descoberta resulta de uma colaboração entre a USP, o INPA e a Universidade do Estado do Amazonas.
A equipa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP trabalha há anos na clonagem e expressão de proteínas de venenos animais com potencial biofarmacêutico. Entre os avanços alcançados está o desenvolvimento de um selante de fibrina, já em fase final de ensaios clínicos, produzido a partir de enzimas extraídas de veneno de serpentes. Os investigadores pretendem agora reproduzir, por expressão genética, as moléculas identificadas no escorpião amazónico, o que poderá permitir a produção em larga escala e acelerar a criação de terapias inovadoras.
Em paralelo, o Brasil assiste ao avanço de outras abordagens experimentais contra o cancro. No Centro de Inovação em Teranóstica do Cancro, em Campinas, equipas desenvolvem terapias que combinam diagnóstico e tratamento, ligando radioisótopos a moléculas que se acumulam em tumores específicos. Já no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, investigadores testam uma vacina personalizada criada a partir da fusão de células dendríticas de dadores saudáveis com células tumorais dos próprios pacientes, com resultados encorajadores em glioblastoma e outros cancros.
A investigação internacional também contribui para novas soluções. Em Toulouse, França, cientistas estão a utilizar inteligência artificial aplicada à ressonância magnética para prever, com precisão entre 80% e 90%, a resposta de pacientes com glioblastoma à quimioterapia, analisando modificações genéticas difíceis de detetar por métodos convencionais. No conjunto, estas linhas de investigação mostram como a combinação de biotecnologia, venenos animais, radioisótopos e IA está a abrir caminhos inesperados e promissores no tratamento do cancro.