Estudo avalia risco de exceder limites de segurança de metais tóxicos e iodo pelo consumo de macroalgas e halófitas em Portugal

Um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com a Universidade de Aveiro, realizou, em Portugal, o levantamento dos níveis de metais tóxicos e iodo em macroalgas e plantas naturalmente adaptadas a biótopos salinos, conhecidas como halófitas.

Atualmente, as macroalgas e halófitas são reconhecidas como alimentos funcionais, representando uma fonte de nutrientes essenciais e compostos bioativos. O aumento do consumo destes produtos e o facto de serem ainda pouco estudados justificaram esta avaliação a nível nacional.

Os resultados mostram que o arsénio e o iodo são os dois elementos químicos que limitam o consumo, em segurança, de macroalgas, principalmente de macroalgas castanhas, que são as que as pessoas mais consomem. Por outro lado, as halófitas parecem ser uma boa alternativa se cultivadas em locais não contaminados.

Importa destacar que a Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC), da Organização Mundial da Saúde, classifica o arsénio como cancerígeno para o ser humano (Grupo I). A mesma organização reconhece, ainda, que a ingestão excessiva de iodo pode causar disfunção da glândula tiroide. O nível dos elementos químicos estudados está em curso em vários países europeus, em cumprimento de uma recomendação da Agência Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), de 2018, que visa garantir a segurança alimentar e promover o desenvolvimento sustentável e responsável do setor.

«Este trabalho teve como principais objetivos determinar em que medida a ingestão de cádmio, chumbo, mercúrio, arsénio e iodo presentes em macroalgas e halófitas excede os limites de segurança conhecidos. Para além disso, foi avaliado o potencial das várias espécies e dos locais de amostragem estudados como possíveis promotores da economia azul e da agricultura marinha em Portugal, considerando que a acumulação dos elementos químicos está relacionada com a localização geográfica em que as várias espécies crescem», elucida Elsa Teresa Rodrigues, investigadora do Centro de Ecologia Funcional (CFE) e do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC.

Nesta investigação concluiu-se, ainda, que as zonas estuarinas não são apropriadas para desenvolver agricultura marinha, enquanto a costa rochosa portuguesa apresenta condições seguras para esse fim.

De acordo com a equipa de investigadores, a implementação da agricultura marinha, em Portugal, deve ser feita apenas em zonas restritas da costa, com qualidade ambiental comprovada. Os produtos alimentares comercializados devem apresentar elevada qualidade, ser vendidos a preços justos e garantir benefícios económicos e ambientais, nomeadamente pelo aproveitamento dos subprodutos para o desenvolvimento de outro tipo de indústrias.

«É fundamental a Comissão Europeia estabelecer limites máximos para arsénio e iodo em macroalgas destinadas ao consumo humano e a sua monitorização rigorosa deve ser assegurada pelas autoridades nacionais competentes», consideram os especialistas.

«Faz-se, ainda, o apelo à população para limitar o consumo de macroalgas castanhas, devido ao seu elevado teor de arsénio e iodo, dada a possibilidade de haver efeitos adversos para a saúde», concluem.

O artigo científico “Risks of exceeding health-based guidance values for toxic metals and metalloids through seaweed and halophyte consumption” está disponível aqui.

Universidade de Coimbra

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