Portugal: Cientistas criam método “verde” para acelerar a descoberta de fármacos

Como numa receita feita numa única panela e com um toque de “magia”, uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) conseguiu, num mesmo reator, desenvolver moléculas de grande interesse cosmético e medicinal, que contêm um aminoácido raro na natureza, a partir de um outro aminoácido mais acessível comercialmente.

A equipa espera que esta metodologia inovadora possa acelerar o desenvolvimento de novos fármacos e produtos cosméticos à base de péptidos (moléculas compostas por aminoácidos).

O trabalho surgiu no âmbito do projeto de investigação DynaPro, que teve como objetivo desenvolver derivados do aminoácido prolina para aplicação em novos fármacos com potencial terapêutico para o tratamento da doença de Parkinson.

“Desenvolvemos uma metodologia nova que permite, num mesmo reator, converter um aminoácido natural e abundante, a trans-4-hidroxi-L-prolina (Hyp), num aminoácido menos comum e, portanto, mais dispendioso, a cis-4-hidroxi-L-prolina (cis-Hyp), que possui grande interesse cosmético e medicinal”, explica Ivo Dias, investigador da FCUP e do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV@REQUIMTE).

A explicação desta nova estratégia química está no artigo “Telescoped One-Pot Strategy for the Assembly of cis-4-Hydroxy-L-Prolyl Amides”, publicado na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering. O impacto e as contribuições importantes deste trabalho mereceram a distinção da revista “Synfacts”, que possui um corpo editorial independente dedicado à seleção e destaque dos trabalhos mais impactantes e que servem como tendências futuras nas diferentes áreas da Química Orgânica.

Processo mais barato, eficiente e sustentável

Ao contrário da Hyp, obtida facilmente através de fontes naturais, a cis-Hyp é muito mais rara, estando presente apenas em alguns produtos naturais como as toxinas de cogumelos do género Amanita. “Comercialmente, a cis-Hyp é muito mais cara – o preço por grama é cerca de 500 vezes superior – do que a Hyp, uma vez que esta é obtida através de processos químicos complexos e dispendiosos”, destaca o investigador.

Este trabalho promove, assim, o uso e a descoberta de novas aplicações deste aminoácido promissor por parte da comunidade científica.

Para além disso, destaca Ivo Dias, “no mesmo reator, promovemos ainda a incorporação deste aminoácido raro para a formação de péptidos, através do uso de solventes mais verdes, resultando num processo altamente eficiente, barato e mais sustentável comparando com outras metodologias”. Atualmente, esclarece o responsável pela investigação, “nas metodologias clássicas para este processo são comummente utilizados reagentes e solventes tóxicos que invariavelmente produzem mais resíduos com impacto negativo no ambiente”.

Inovação para investigação na área do Parkinson

Este novo método possibilitou aos investigadores avançar com o trabalho através do projeto, também financiado pela FCT, Pep2mer (2023.14440.PEX) a decorrer até junho do próximo ano. Os cientistas continuarão dedicados à produção e aplicação de novos derivados da prolina para o desenvolvimento de novos péptidos bioativos com interesse farmacológico para o tratamento da doença de Parkinson.

Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

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