Guiné Equatorial: Mais de 180 mortos e quatro anos depois ainda não há responsáveis pela explosão do quartel militar de Nkoantoma

A Guiné-Equatorial acaba de assinalar os quatro anos do bombardeamento a um quartel militar na capital do país. Até hoje, o Governo continua a resistir a aceitar a responsabilidade pelo manuseamento negligente desses dispositivos.

Este mês, a Guiné Equatorial assinalou com tristeza e pesar os quatro anos que passaram desde a tarde de 7 de março de 2021, quando ocorreram uma série de explosões no quartel militar de Nkoantoma, na cidade de Bata, capital económica do país. Corpos voaram pelo ar, juntamente com telhados e destroços, que foram transformados em balas mortíferas pela enorme onda de choque que foi criada e atingiu vários quilómetros do denominado Ground Zero.

Numa situação completamente atípica, o pânico apoderou-se de toda a população culminando num extenso caos pela ausência de serviços de emergência e de gestão de catástrofes. Assim, as pessoas foram abandonadas à sua sorte no meio do fogo, dos destroços e das ondas de explosão.

Após estes anos, não foi realizado qualquer julgamento para determinar a responsabilidade. Na altura do incidente, o governo informou que a causa foi “um vizinho que vive perto do quartel estava a queimar mato para trabalhos agrícolas e os explosivos aqueceram, fazendo-os detonar”, uma história que não caiu bem à população. Os números oficiais apontaram para 108 mortos, 700 feridos e 16 mil afectados, porém, a realidade aparenta superar os números do Governo.

A avaliação das Nações Unidas suportou a versão oficial do Governo, “Foi um acidente completo. Chegámos às mesmas conclusões do Governo: que houve um incêndio, devido a uma escotilha ao nível dos tanques, que provocou o incêndio”.

Os explosivos em causa foram manuseados fora dos padrões internacionais de guarda. Relatos não oficiais de militares residentes no complexo referiram que “o local não reunia as condições necessárias. O calor dentro daquela zona era insuportável, e já tínhamos alertado para isso. Além disso, normalmente, não deveriam ter sido ali armazenados, uma vez que não estava planeado na altura da construção do quartel e não foi feita qualquer adaptação”.

Nas semanas seguintes ao grave incidente, foram anunciadas medidas que ajudariam a evitar uma repetição. Pela primeira vez, foi colocado em debate a imprudência de ter terrenos adjacentes às zonas onde são construídos quartéis militares habitados por civis, incluindo as habitações destinadas ao uso exclusivo dos militares.

No entanto, aos dias de hoje essa proibição continua sem ser respeitada. Ainda há civis a viver dentro e nas áreas exteriores próximas. Um exemplo é o quartel militar Acacio Mañe Ela, na capital Malabo, que alberga o maior arsenal de explosivos do país por ser o principal das Forças Terrestres, e que se situa no centro da cidade.

Até hoje, a população oprimida continua a exigir silenciosamente justiça por este massacre, que dura há quatro anos, enquanto o governo de Obiang continua a gabar-se da sua “boa gestão”.

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