A dois meses das eleições gerais marcadas para 28 de dezembro, a República Centro-Africana (RCA) parece recuperar algum dinamismo político. No entanto, a chefe da Missão das Nações Unidas no país (MINUSCA), Valentine Rugwabiza, alerta que, apesar dos progressos alcançados desde a assinatura do cessar-fogo de 19 de abril, a paz continua frágil, ameaçada pela guerra no Sudão vizinho e pela falta de recursos financeiros.
O acordo firmado em N’Djamena, no Chade, entre o governo centro-africano e dois dos grupos armados mais ativos — a Unidade para a Paz na República Centro-Africana (UPC) e o grupo Retorno, Reivindicação e Reabilitação (3R) — permitiu a desmobilização de mais de 700 combatentes desde julho. Este desarmamento parcial representa um ponto de viragem num país onde grande parte do território permanece sob o controlo de fações armadas. “Com estas dissoluções, 11 dos 14 grupos signatários do acordo político de 2019 já depuseram oficialmente as armas”, congratulou-se Rugwabiza perante o Conselho de Segurança.
Contudo, a realização das eleições de dezembro constitui um enorme desafio. O recenseamento eleitoral está concluído, com 2,3 milhões de eleitores registados, mas o orçamento do escrutínio ainda apresenta um défice de cerca de 12 milhões de dólares. Entre dificuldades logísticas, insegurança em várias regiões e restrições orçamentais impostas à MINUSCA — obrigada a reduzir as suas despesas em 15% —, o risco de um desvio do processo eleitoral é elevado.
A tudo isto soma-se o impacto do conflito no Sudão, que desestabiliza o nordeste da RCA e provoca novos fluxos de deslocados. Face a este cenário, Valentine Rugwabiza apela à comunidade internacional para manter o mandato e os recursos da MINUSCA, considerada essencial para a consolidação da paz e a estabilidade regional.
 
								