O Hezbollah organizou esta quinta-feira um evento público na zona de Raouché, no centro de Beirute junto ao mar, para homenagear Sayyed Hassan Nasrallah, ex-Secretário-geral do partido xiita, dois dias antes das comemorações oficiais do primeiro aniversário do seu assassínio. Nasrallah foi alvo de um ataque aéreo Israelita nos subúrbios sul da capital Libanesa a 27 de Setembro de 2024, num dos bombardeamentos mais devastadores da guerra entre o estado Israelita e o Hezbollah, que fez mais de 4 mil mortos no. Líbano no decurso do conflito armado.
A morte de Nasrallah foi confirmada no dia seguinte e gerou ondas de choque entre milhões de membros da comunidade xiita, que o considereravam não só um líder político e religioso, mas também uma figura paterna. O seu funeral, juntamente com o do seu sucessor, Sayyed Hashem Safieddine (também morto por Israel), teve lugar em Fevereiro de 2025 e reuniu em Beirute mais de um milhão de participantes vindos de todo o mundo.
O evento desta quinta-feira teve também números consideráveis de pessoas que se reuniram em Raouché, onde milhares de apoiantes do Hezbollah prestaram homenagem à Nasrallah e relembraram o seu líder, exibindo bandeiras do partido xiita e gritando slogans em suporte da sua causa política, e também críticas ao presente Primeiro-ministro Nawaf Salam, que foi apodado de “sionista” e “escravo dos EUA”.
Este evento tinha sido autorizado pelo governo Libanês, sob a condição de que não seriam projetadas imagens de figuras políticas na Pigeon Rock, a icónica formação rochosa na área de Raouché. Contudo, os organizadores do Hezbollah decidiram desafiar as decisões do Primeiro-ministro, e durante o evento exibiram fotos de Nasrallah, Safieddine e outras figuras do Hezbollah nas rochas. Esta ação foi interpretada por Nawaf Salam como “um claro golpe contra o Estado”, levando o Primeiro-ministro a exigir que os responsáveis fossem detidos e julgados. Mais tarde, Salam publicou um longo depoimento nas suas redes sociais em tom inflamado onde apontou que com a violação legal deste evento, a credibilidade política do Hezbollah dentro das instituições estatais.
O Primeiro-ministro decidiu ainda cancelar todos os seus agendamentos na sexta-feira e convocou uma reunião ministerial consultiva com o seu executivo para discutir o incidente em Raouché. Para já, não há dados sobre que decisões foram tomadas nesta sessão, mas o Vice-Primeiro-Ministro, Tarek Mitri, realçou que o governo Libanês “está determinado a pôr fim à sedição e às campanhas de ódio que ameaçam a nossa coexistência nacional.”
As reações negativas de Salam geraram comentários nas redes sociais de milhares de Libaneses, que acusaram o Primeiro-ministro de dar prioridade ao incidente em Raouché e de ignorar problemas mais urgentes, como as violações do cessar-fogo por parte de Israel, que incluem bombardeamentos quase diários em território Libanês e ocupação militar ilegal no sul do Líbano.
João Sousa, a partir do Líbano para a e-Global