Um novo movimento de contestação civil emergiu no Níger. Denominado G25-Níger, este agrupamento apresenta-se como uma coligação de cerca de uma dezena de organizações da sociedade civil e de órgãos de comunicação social. Os seus integrantes, que na sua maioria exigem permanecer anónimos por receio de represálias, denunciam “um impasse político” desde o golpe de Estado de 26 de julho de 2023 e exigem a libertação do antigo Presidente Mohamed Bazoum, detido desde a sua deposição.
O coletivo divulgou a 6 de setembro, o seu primeiro comunicado, difundido através de uma página no Facebook criada no início do mês e já seguida por mais de mil internautas. Entre as suas principais reivindicações figuram o restabelecimento da ordem constitucional, o respeito pelas liberdades fundamentais, a implementação de uma estratégia nacional inclusiva e eficaz de combate ao terrorismo, bem como o fim da “tutela militar” sobre o poder político.
Embora a maior parte dos dirigentes continue na sombra, o G25 anunciou que Tahirou Garka, jornalista e diretor da publicação Niyya Infos, é o seu representante oficial no estrangeiro. Apresentado como um “democrata reconhecido”, denuncia uma situação em que “os nigerinos vivem um autêntico martírio, assistem à degradação do país e à multiplicação de práticas autoritárias”. E acrescenta: “Nenhum nigerino elegeu estes militares que estão a sufocar as liberdades.”
Em declarações à e-Global, Tahirou Garka, procurou desfazer equívocos quanto à identidade do movimento. Explicou que a designação G25 não corresponde ao número de fundadores, mas sim ao ano da criação, 2025.
Segundo Garka, o G25 defende que a saída para a crise passa por uma mobilização nacional. “A intenção é a mobilização geral para tirar o poder aos militares. Apoiar um levantamento popular em todo o país. Defendemos a democracia e um poder democraticamente eleito”, insistiu.
Questionado sobre uma eventual proximidade do G25 a elementos ligados ao presidente deposto, rejeitou qualquer instrumentalização, mas não deixou de enfatizar a legitimidade do antigo chefe de Estado. “O G25 exige um regresso à democracia, e para que isso seja possível é essencial a libertação imediata e sem condições do presidente [Mohamed] Bazoum. Bazoum é um presidente que foi democraticamente eleito e até hoje consideramos que Bazoum é o nosso presidente, sequestrado pelos militares que são incapazes de o levar aos tribunais porque não há nada contra ele.”
Garka sublinhou, no entanto, que a luta do G25 não se resume de Mohamed Bazoum. “Mais do que uma liderança personalizada, trata-se de um apelo a um retorno ao Estado de direito”, disse.
No plano securitário, Garka procurou contrastar a governação da junta militar com a de Bazoum. “Desde que a junta militar está no poder, já morreram mais 1.480 soldados nigerinos, enquanto durante a presidência de Bazoum apenas 69 tombaram”, destacou, associando o agravamento das perdas militares à falta de uma estratégia eficaz contra o terrorismo.
Ao ser questionado sobre como o G25 pretende responder à escalada de violência extremista, foi perentório, “para combater os jihadistas, temos primeiro de libertar o presidente Bazoum”, e vincou que, para o movimento G25, a segurança nacional está indissociavelmente ligada à restauração da legalidade democrática.
Um contexto explosivo
Desde o golpe de Estado de 26 de julho de 2023, o Níger vive sob o comando do general Abdourahamane Tiani e do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP). O afastamento forçado e detenção do presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum, mergulhou o país numa crise institucional.
Em março de 2025, Tiani foi formalmente investido Presidente da República para um mandato de cinco anos, ao abrigo da Carta da Refundação, um texto elaborado pela junta militar que suspendeu a Constituição e dissolveu os partidos políticos. Esta decisão consolidou o poder dos militares e afastou, para já, qualquer perspetiva de eleições.
No plano interno, o regime enfrenta uma grave crise económica e social, e uma contestação crescente da sociedade civil, tal como Tahirou Garka confirmou à e-Global. Paralelamente, a situação securitária deteriorou-se drasticamente. Os ataques de grupos armados ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico intensificaram-se, sobretudo nas zonas fronteiriças com o Mali, Burquina Faso e Nigéria. O isolamento do país, a insegurança disseminada, somada a restrições crescentes das liberdades, alimenta um clima de frustração popular.
RN