Amanhã, 10 de setembro acontece, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, do movimento Setembro Amarelo, e o lema deste ano é “Se precisar, peça ajuda!”.
O neurocientista luso-brasileiro, Fabiano de Abreu Agrela, explicou ser fundamental uma abordagem mais compreensiva e menos julgadora em relação ao suicídio, com ênfase numa visão holística alinhada ao conhecimento neurocientífico e a compaixão para um apoio adequado às pessoas e também conscientizar a sociedade deste grave problema de saúde pública.
“O suicídio é o desfecho de uma depressão que perturba o instinto, a tomada de decisão e a capacidade de prevenção, resultando numa ação súbita e incontrolável. Não deve, portanto, ser visto como fraqueza ou ser explicado de forma simplista”, esclareceu o neurocientista, membro da Society for Neuroscience, nos Estados Unidos, e Biólogo pela Royal Society of Biology, no Reino Unido.
Há uma “tendência comum de julgar ou culpar o entorno da pessoa, ou a própria pessoa afetada, ignorando os complexos mecanismos neurobiológicos subjacentes ao suicídio”, ressaltou Agrela, e disse, mais ainda: “a depressão associada ao suicídio” num contorno de “alterações significativas na neuroquímica e estrutura cerebral, especialmente nas áreas que regulam o humor, a tomada de decisão e o comportamento impulsivo”.
“As disfunções no sistema serotoninérgico, que regula o humor e a ansiedade, são frequentes, assim como a hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que reage ao estresse. A inflamação neurogênica e a redução da neuroplasticidade no hipocampo e córtex pré-frontal também são características marcantes”, completou Agrela.
Para fundamentar o assunto, o neurocientista referiu-se a estudos sobre “a predisposição genética ao suicídio, especialmente em contexto de depressão, pode ser influenciada por variações em genes que regulam neurotransmissores importantes como serotonina e dopamina. Genes como SLC6A4, relacionado ao transporte de serotonina, e BDNF, que afeta a neuroplasticidade, são particularmente importantes. A genética, embora contribua para a predisposição ao suicídio, não determina isoladamente o comportamento suicida; ela interage complexamente com fatores ambientais como traumas e estresse crônico”.
Além disso, Agrela ressaltou que “a depressão grave pode levar ao desligamento de regiões cerebrais responsáveis pela prevenção ao suicídio e pelo instinto de autopreservação, como o córtex pré-frontal. As disfunções neuroquímicas, como alterações nos níveis de serotonina e glutamato e o aumento do cortisol, reduzem a capacidade desta região de controlar impulsos e regular emoções intensas. Este estado de desregulação emocional compromete os mecanismos naturais de autopreservação, tornando provável que pensamentos suicidas evoluam para ações concretas”.
Ígor Lopes