CCB . 9 a 12 out . quinta e sexta: 20h00, sábado: 19h00, domingo: 17h00 . Pequeno Auditório Espetáculo com audiodescrição para pessoas cegas e com baixa visão no dia 12 outubro
Mais do que uma etapa da vida, o envelhecimento é um fenómeno universal que se desdobra em múltiplas dimensões — física, psicológica, social e cultural.
hOLD parte da experiência de duas bailarinas-intérpretes profissionais, ambas perto dos 50 anos, que propõem uma escuta sensível sobre a consciência de uma transição — o envelhecimento não apenas como questão biológica, mas como construção social com implicações éticas e existenciais. Entre o desejo de segurar o instante e a aceitação da inevitabilidade da mudança, esta peça investiga o envelhecer como campo fértil para a criação de novas narrativas e representações no futuro.
O envelhecimento, enquanto fenómeno universal, encerra uma multiplicidade de dimensões – física, psicológica, social e cultural. A narrativa associada ao processo de envelhecimento, frequentemente ligada a uma perda de capacidades, contrasta com a realidade de indivíduos que, no decorrer do processo, continuam a desempenhar um papel ativo e significativo na sociedade. Esta dicotomia desafia estereótipos e promove uma reflexão sobre as potencialidades e contribuições dos indivíduos seniores nos mais diversos contextos.
Este projeto propõe explorar a poética e a ferocidade inerentes ao processo de envelhecimento a partir das suas implicações em várias esferas da vida humana. Considerando a singular capacidade dos seres humanos em reconhecer a passagem do tempo e diferenciar as suas dimensões (passado – presente – futuro), Simone de Beauvoir destaca que, de uma maneira geral, refletimos frequentemente com propriedade sobre o futuro mas resguardamo-nos ao revistar o passado, especialmente quando se trata de trazer dele um sentido critico construtivo, subestimando a sabedoria e experiência.
São Castro e Teresa Alves da Silva, ambas bailarinas-intérpretes profissionais perto dos 50 anos, propõem uma reflexão que se estende à consciência presente de uma transição que acontece significativamente no corpo – uma transição que não só valoriza um passado como pavimenta a criação de novas narrativas e o desenvolvimento de novas expressões no futuro. A proposta é feita à luz de base legal. Segundo o Decreto-Lei n.º 482/99, os bailarinos profissionais de clássico ou contemporâneo podem aceder, a partir dos 45 anos, ao regime especial de pensão por velhice.
Dependendo das diversas realidades e singularidades, os discursos sobre as questões que envolvem o envelhecimento poderão variar dependendo de diversos fatores. Torna-se crucial o entendimento sobre a complexidade dessas diversas realidades permeadas por um espectro de experiências influenciadas por aspetos sociais, económicos, culturais, profissionais e pessoais.
hOLD representa uma tentativa de agarrar o tempo para perceber como melhor prosseguir. Procura segurar por instantes a essência do momento presente, extraindo dele o que de facto resulta do «chegar até aqui», sendo que «chegar até aqui» poderá envolver uma nova e diferente forma de mover e pensar, a partir de perspetivas profundas e uma dimensão interpretativa que apenas a vivência acumulada permite. Como refere Charles Augustin Sainte-Beuve, «envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo».
O processo de criação desta peça faz-se acompanhar por obras relacionadas com a temática. Cícero, Hermann Hesse, Yvonne Rainer, Manuel Curado e Simone de Beauvoir inspiram uma reflexão profunda sobre esta etapa madura da existência, não apenas como uma questão biológica, mas também como uma construção social com implicações éticas e existenciais.
PLAY FALSE – associação cultural