Dois ensaios clínicos demonstraram que é possível induzir no corpo humano respostas imunitárias iniciais capazes de evoluir para a produção de anticorpos amplamente neutralizantes contra o vírus da imunodeficiência humana (VIH).
O estudo, publicado a 15 de maio na revista Science e liderado pelo Instituto de Pesquisa Scripps e a IAVI, utilizou vacinas baseadas em mRNA para estimular o sistema imunitário de 78 participantes na América do Norte e África, incluindo países com elevada incidência de VIH como o Ruanda e a África do Sul.
Um dos ensaios testou uma abordagem de vacinação em duas etapas — uma dose inicial (priming) e um reforço heterólogo com fórmula ligeiramente diferente —, mostrando que esta combinação conseguiu avançar significativamente o desenvolvimento de anticorpos VRC01, um subtipo considerado promissor no combate ao VIH. Mais de 80% dos participantes desta fase atingiram uma resposta imunitária “elite”, com mutações favoráveis nas células B responsáveis pela produção de anticorpos.
No outro ensaio, realizado exclusivamente em África, duas doses da vacina inicial conseguiram ativar os anticorpos desejados em 94% dos participantes, provando que o método é eficaz mesmo em comunidades mais afetadas pela epidemia.
Segundo os investigadores, estes resultados confirmam o potencial de uma vacina global e personalizada contra o VIH. Embora tenham sido registadas algumas reações cutâneas em parte dos participantes, os efeitos secundários foram geralmente leves e controlados. Um novo estudo de seguimento já está planeado na África do Sul para ajustar as doses e maximizar a resposta imunitária.
Este avanço representa um passo importante na busca de uma vacina eficaz contra o VIH, após décadas de tentativas frustradas devido à alta taxa de mutação do vírus. Os investigadores sublinham que a abordagem poderá também ser útil para o desenvolvimento de vacinas contra outras doenças infecciosas complexas, abrindo caminho para novas estratégias de imunização global.