A Petrobras anunciou, recentemente, os resultados obtidos em 2016. Segundo essa empresa estatal brasileira, os números mostram “melhora significativa no desempenho operacional”, o que possibilitou, de acordo com os seus executivos, “reversão do prejuízo apurado no terceiro trimestre para um lucro líquido de R$ 2,51 mil milhões no quarto trimestre e redução no endividamento”. Apesar da crise e do ciclo de notícias negativas envolvendo escândalos de corrupção na empresa, a Petrobras está a manter o protagonismo internacional na exploração de petróleo e no trabalho voltado para as questões de energias renováveis.
Durante o anúncio dos resultados à imprensa, os executivos da Petrobras reforçaram que, “apesar de o preço do petróleo ter estado mais baixo em 2016, da retração do mercado nacional de derivados, com queda de 8% no volume de vendas no mercado interno e da menor geração de energia eléctrica, operamos com maiores margens de diesel e gasolina, se comparado ao ano anterior, e reduzimos os nossos gastos com importações, participações governamentais e despesas de vendas, gerais e administrativas, bem como despesas financeiras líquidas”.
O relatório apresentado aponta aumento das exportações em 12% no quarto trimestre de 2016, totalizando 634 mil bpd de petróleo e derivados, com destaque para as exportações de petróleo, que subiram 14%. No quesito operacional, a meta de produção, segundo a Petrobras, foi cumprida “atingindo 2.144 mil de barris por dia (bpd) de petróleo no Brasil”. A empresa defende que foram também “registados recordes como a produção de 2,9 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), considerando petróleo e gás, no Brasil e no exterior, em Dezembro do ano passado”.
“Com a maior geração operacional e a redução de investimentos em 32%, alcançamos um fluxo de caixa livre de R$ 41,57 mil milhões. O quarto trimestre de 2016 foi o sétimo trimestre consecutivo de fluxo de caixa livre positivo, demonstrando a maior disciplina de capital que temos perseguindo”, refere nota enviada à imprensa, que sublinhou também que “o endividamento líquido foi reduzido em 20%, passando para R$ 314 mil milhões ou US$ 96,4 mil milhões, em decorrência da amortização e pré-pagamento de dívidas, utilizando recursos de desinvestimentos e do caixa, bem como da apreciação do Real. A gestão da dívida também possibilitou o aumento do prazo médio de 7,14 para 7,46 anos”.
Fontes da empresa disseram que os resultados apresentados “revelam o esforço da Petrobras em reverter a sua imagem negativa, além de diminuir as dívidas existentes”. Membros da diretoria, que não quiseram se identificar, alegaram que “o ambiente na empresa está hoje mais leve do que no momento das denúncias e que, mesmo com o plano de demissões voluntárias, as principais áreas da estatal continuam comprometidas em manter o bom nível de resultados nos próximos anos”.
Imagem comprometida pelas investigações
Contactada pela nossa reportagem, o Ministério Público Federal (MPF) do Brasil, que investiga os casos de corrupção envolvendo órgãos e empresas governamentais, reforçou que “a operação Lava Jacto configura-se como a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve”. Dados desse mesmo organismo indicam que “o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de mil milhões de reais”.
Em nota, o Ministério Público Federal explica que, “no primeiro momento da investigação, desenvolvida a partir de Março de 2014, perante a Justiça Federal em Curitiba, foram investigadas e processadas quatro organizações criminosas lideradas por doleiros, que são operadores do mercado paralelo de cámbio. Depois, o MPF recolheu provas de um imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras. Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfacturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa”.
No seio da Petrobras, as diretorias que apresentavam maior índice de casos de desvio de dinheiro eram a de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, de indicação do partido PP, com posterior apoio do PMDB; de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do PT; e Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB.
Segundo a Procuradoria Geral da República, os actos investigados demonstram que “esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro”.
Durante as diligéncias do MPF e da Polícia Federal (PF) foram identificados os operadores financeiros do esquema. Fernando Baiano e João Vacari Neto actuavam em nome de integrantes do PMDB e do PT. Ambos cumprem prisão.
Há poucos dias, os noticiários brasileiros mostraram a prisão do ex-gerente da Petrobras, Roberto Gonçalves, pela PF na 39ª fase da Lava Jacto. Roberto Gonçalves sucedeu Pedro Barusco, condenado na operação por lavagem de dinheiro, associação criminosa e corrupção, como gerente-executivo da área de Engenharia e Serviços da Petrobras, onde trabalhou entre Março de 2011 e Maio de 2012.
A Polícia Federal informou que novas investigações no âmbito da Lava Jacto estão em curso e que possivelmente haverá mais prisões.
por Igor Lopes, no Rio de Janeiro