A Polícia de Intervenção Rápida da Guiné-Bissau atropelou uma repórter da Rádio Popular, Ngouisam Casimiro Monteiro, e espancou a jornalista Djuma Culibali, da Rádio Capital FM, nesta quarta-feira, 31 de julho, enquanto as duas profissionais de comunicação cumpriam a cobertura da vigília dos professores contratados que exigiam o pagamento em atraso de cinco meses de salário.
“Foi uma ação premeditada, porquanto uma repórter da Rádio Popular também foi atropelada pela Polícia de Intervenção”, lê-se na nota informativa da Rádio Privada Capital FM que denunciou ainda a perseguição de um repórter da imagem durante o evento reivindicativo.
“Outrossim, outro repórter da CFM, que fazia vídeo, foi perseguido pela Polícia de Intervenção Rápida, mas só Deus sabe como se escapou”, informou a Direção da Rádio Privada Capital FM.
SINJOTECS reforça apelo de boicote ao PR Sissoco Embaló
Na sequência destes acontecimentos, o Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social (SINJOTECS) da Guiné-Bissau apelou à “união no seio da classe jornalística na luta contra atropelos à liberdade de imprensa”.
A organização sindical reagiu assim a mais um episódio que considera “triste e da brutalidade policial contra os profissionais de comunicação durante o exercício laboral”.
“O SINJOTECS condena sem reservas o acto de agressão física perpetrado por agentes de polícia da intervenção rápida contra a jornalista Djuma Culibali da Rádio Capital FM e da outra vítima que foi atropelada propositadamente pela polícia, a Ngouisam Casimiro Monteiro, da Rádio Popular, ambas faziam a cobertura jornalística de uma vigília dos professores à frente do Ministério da Educação Nacional”, lê-se.
O SINJOTECS reforça na nota de repúdio “o apelo ao boicote de todas as atividades públicas do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, extensivo ao seu Governo”. Na mesma nota insta a advocacia da comunidade internacional em defesa da liberdade de expressão e de imprensa na Guiné-Bissau.
Sabe-se que o chefe de Estado guineense agendou um encontro com os jornalistas para a próxima segunda-feira, 05 de agosto. Neste sentido, o SINJOTECS exorta aos jornalistas e aos diretores dos órgãos de comunicação social “a não comparecerem no encontro”.
LGDH exige abandono das estratégias solitárias de confrontação da imprensa
A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) exige das autoridades nacionais “o abandono das estratégias solitárias de confrontação e de diabolização permanente da imprensa independente, por prejudicar gravemente a imagem e reputação da Guiné-Bissau”.
Na nota de repúdio, a LGDH menciona “os actos repugnantes de agressão da jornalista da Rádio Capital FM e da tentativa deliberada de atropelamento da outra da Rádio Popular, ocorridos hoje, dia 31 de julho de 2024, revelam o contexto nefasto em que labutam diariamente os profissionais de comunicação social na Guiné-Bissau”.
Para a organização dos direitos humanos “este episódio é mais um caso que vem juntar a tantos outros protagonizados pelos mais altos responsáveis políticos com o objetivo de intimidar, condicionar e limitar o livre exercício da liberdade de imprensa na Guiné-Bissau”.
“Sendo um dos principais alicerces da democracia, os regimes autoritários e ditatoriais tendem a reduzir o espaço de intervenção ao jornalismo livre e independente, através do recurso aos métodos ilegais e arbitrários, tal como tem sucedido na Guiné-Bissau”, declara.
A LGDH condena as agressões, que diz serem “cobardes e nojentas” contra os jornalistas em pleno exercício das suas funções, e exige ainda às autoridades judiciárias “a abertura de inquéritos transparentes com vista à responsabilização criminal e disciplinar dos autores”.
Defensores de Direitos Humanos exigem demissão de ministro do Interior
A Rede dos Defensores dos Direitos Humanos exige “a demissão imediata do Ministro do Interior”, por alegada “incapacidade de dirigir um Ministério” que considera ser “tão sensível”.
No comunicado dirigido à imprensa e tornado público nesta sexta-feira, 01 de agosto, existe uma reação ao espancamento dos jornalistas por parte da polícia durante a vigília dos professores realizada na quarta-feira, 31 de julho. Para a organização dos direitos humanos é abusivo o comportamento e, neste sentido, exige a responsabilidade dos actos.
“Este comportamento abusivo por parte dos agentes do Ministério de Interior, que sabem, apesar de várias chamadas de atenção, que podem cometer todas as atrocidades e que não haverá qualquer responsabilização, quer por parte do Ministério a que pertencem e nem tão pouco por parte do Ministério Público. O que aconteceu com jornalistas é um acto de terror, um atentado ao Estado de Direito Democrático, uma afronta ao setor da Comunicação Social, ferindo gravíssimamente a liberdade de imprensa, que, como é óbvio, é um pilar crucial para a manutenção de uma sociedade justa e democrática”, pode ainda ler-se.
Mamandin Indjai