Moçambique: “Foi de terror”, descreve Bispo de Nacala sobre a passagem de ciclone

O ciclone tropical Jude atravessou Moçambique nas primeiras horas de segunda-feira, dia 10 de Março e deixou um forte rasto de destruição essencialmente nas províncias de Nampula e Zambézia. O Bispo de Nacala, D. Alberto Vera, confessou à Fundação AIS que foram horas “de terror em toda a costa” e que muitas capelas, escolas e centros de pastoral ficaram sem tecto e antevê já “meses de fome” para as populações locais.

“A destruição é muito grande, cerca de metade das casas de barro dos 10 distritos da Diocese de Nacala ficaram danificadas. Muitas capelas, escolas e centros de pastoral ficaram sem tecto”, descreveu D. Alberto Vera, Bispo de Nacala, numa mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, algumas horas após a passagem do ciclone Jude por Moçambique na madrugada de segunda-feira, dia 10 de Março. “O mais terrível, em todos os distritos, foram as fortes chuvas, acompanhadas de ventos muito intensos, de 100 a 150 quilómetros por hora. Várias pontes foram destruídas, cortando as comunicações entre Nacala-a-Velha e Memba, entre Liupo e Angoche”, pormenorizou ainda o prelado.

Quando falou com a Fundação AIS, o bispo mostrava-se já preocupado com as consequências devastadoras de mais este ciclone – o terceiro a atingir a região de Moçambique nos últimos quatro meses – para as populações locais.  “A noite foi de terror em toda a costa e o povo ficou desmoralizado porque a colheira de milho deste ano, que era boa, ficou destruída pelo ciclone, o que significa meses de fome em Nampula”, prevê D. Alberto Vera.

DEPOIS DA TEMPESTADE, A CÓLERA E A MALÁRIA

Também o responsável da Unicef em Moçambique, Guy Taylor, manifestou a sua preocupação sobre as consequências de mais um ciclone devastador para as empobrecidas populações moçambicanas.

Numa mensagem vídeo publicada no canal oficial da ONU, o responsável alerta para o risco, a partir de agora, com as inundações provocadas pelas chuvas fortes, de doenças como a cólera ou a malária“A situação é muito má para as pessoas e muitas estão numa situação de enorme vulnerabilidade”, diz Taylor, explicando que “muitas pessoas vivem em estruturas muito rudimentares que não foram feitas para resistir a este tipo de vento e chuva”.

“Nós estamos particularmente preocupados com o facto de que quase todas as bacias hidrográficas e represas da província de Nampula e na da Zambézia já estarem cheias, pois isto vai criar inundações severas, que trazem o risco de doenças transmitidas pela água, como a cólera e a diarreia ou a malária, doenças que matam especialmente as crianças”, disse o responsável da Unicef de Moçambique, concluindo que “esta é uma situação muito preocupante num país onde já vivem 3,4 milhões de crianças em necessidade humanitária”.

TRÊS CICLONES EM QUATRO MESES

A Diocese de Nacala tem sido particularmente afetada pela passagem dos ciclones nesta época do ano. Ainda em Janeiro, o ciclone Dikeledi deixou também um rasto de destruição enorme, com muitas casas e igrejas destruídas ou parcialmente danificadas e milhares de pessoas sem eletricidade, a ponto de o Bispo, D. Alberto Vera, ter avançado então com um “plano de emergência” a nível diocesano para a compra de materiais de construção, como chapas, pregos e barrotes, para as obras mais urgentes em capelas, escolas e outros edifícios comuns.

Mas a situação mais alarmante verificou-se em Dezembro, e mais a norte, na Diocese de Pemba, com a passagem do devastador ciclone Chido que causou a morte a mais de uma centena de pessoas e deixou largos milhares de famílias sem abrigo. O ciclone, explicou então a Irmã Aparecida Queiroz, da Diocese de Pemba, numa das muitas mensagens trocadas com a Fundação AIS em Lisboa, “destruiu casas inteiras, arrancou tetos de escolas, de centros de saúde, derrubou árvores e postes de energia elétrica e deixou a população sem água e energia na cidade de Pemba” e em vários distritos. “São milhares de casas total ou parcialmente destruídas, escolas, centros de saúde, casas de religiosas e sacerdotes, casas de alvenaria e igrejas que perderam os tectos, capelas que foram totalmente destruídas”, relatou a religiosa.

Paulo Aido – Fundação AIS

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