A UNICEF alerta para os efeitos devastadores da guerra para todas as crianças na Ucrânia
Uma em cada cinco crianças na Ucrânia indica ter perdido um familiar ou amigo próximos desde a escalada da guerra a 24 de fevereiro de 2022. “Durante demasiado tempo, a morte e a destruição têm sido uma realidade constante na vida das crianças na Ucrânia”, afirmou a Diretora Executiva da UNICEF, Catherine Russell. “Este nível de violência causa imenso medo e sofrimento, e perturba todos os aspetos da vida de uma criança“.
O terceiro ano de guerra em grande escala na Ucrânia foi ainda mais mortífero para as crianças do que o ano anterior. O número de crianças mortas em 2024 aumentou mais de 50% em relação a 2023. Ao todo, mais de 2520 crianças foram mortas ou feridas desde fevereiro de 2022. Estima-se que o número real é muito mais elevado, uma vez que estes dados contabilizam apenas as vítimas infantis confirmadas pela ONU. Nos últimos três anos, verificou-se que mais de 1600 estabelecimentos de ensino e quase 790 estabelecimentos de saúde foram danificados ou destruídos na totalidade.
A guerra na Ucrânia fez com que as crianças e os adolescentes enfrentassem perdas e privações profundas, que afetaram o seu desenvolvimento e bem-estar, durante fases críticas das suas vidas. As experiências vividas durante os primeiros três anos de vida impactam profundamente a saúde e a aprendizagem das crianças ao longo da vida. Na Ucrânia, as crianças de três anos só conhecem a guerra. Os pais dizem sentir-se física e emocionalmente exaustos, o que afeta a vida familiar. Os serviços essenciais para as crianças e para os seus pais também foram afetados pela guerra.
A adolescência é também uma altura particularmente difícil para as crianças na Ucrânia. Quase um terço dos adolescentes declarou sentir-se tão triste ou sem esperança que deixou de fazer as suas atividades habituais. Estes sentimentos são mais revelaram-se mais comuns entre as raparigas.
Os problemas de saúde mental das crianças e dos jovens na Ucrânia estão a agravar-se devido ao isolamento. Muitas crianças passam constantemente horas abrigadas em caves, perdendo oportunidades de socializar e aprender. Cerca de 40% das crianças estudam apenas remotamente online, ou têm aulas presenciais e à distância. O impacto na aprendizagem tem sido profundo, com uma perda média de dois anos de escolaridade em termos de competências de leitura e um ano em competências de matemática.
A UNICEF trabalha com parceiros em toda a Ucrânia para prestar apoio essencial destinado a salvar vidas, nomeadamente prestando acesso a cuidados de saúde, água potável, assistência monetária, educação e serviços de proteção infantil para as crianças nas zonas da linha da frente. Nesse sentido, tem reparado e reabilitado redes de água e saneamento, e assegurado que as famílias com crianças têm acesso a combustível e vestuário para mantê-las quentes durante os invernos rigorosos.
Paralelamente, a UNICEF trabalha com o Governo ucraniano e parceiros locais para apoiar a recuperação e o desenvolvimento do país a longo prazo, promovendo a coesão social, através do reforço dos sistemas que servem as crianças e as suas famílias, e garantindo sistemas de proteção social e infantil, de saúde e de educação, bem como cuidados e oportunidades às crianças em tempo útil e com qualidade.
Atualmente, existem 6,86 milhões de refugiados ucranianos registados em todo o mundo, dos quais quase um milhão reside na Polónia. Em Portugal, há 46.823 refugiados ucranianos, sendo 19% deles crianças, o que corresponde a 10.393 menores.
Para as crianças refugiadas, o acesso à escola continua a ser um desafio, com metade das crianças em idade escolar nos países de acolhimento de refugiados a não estarem inscritas nos sistemas educativos nacionais, o que afeta a sua oportunidade de aprender e interagir com os seus pares, bem como de desenvolver competências essenciais que serão fundamentais para a recuperação da Ucrânia após a guerra.
“As crianças devem ser sempre protegidas dos impactos da guerra, de acordo com o direito internacional humanitário e a legislação internacional de direitos humanos”, disse Catherine Russell. “Mais do que qualquer outra coisa, as crianças na Ucrânia precisam de paz sustentada e da oportunidade de concretizar todo o seu potencial”, concluiu.
UNICEF