Este ano, milhões de arménios celebraram o 110º aniversário do Genocídio Arménio e os efeitos duradouros de uma das atrocidades mais devastadoras na História da humanidade. Diversos encontros, vigílias e marchas solenes têm lugar na noite de 23 para 24 de abril todos os anos para homenagear as mais de 1,5 milhões de vítimas da campanha genocida envolvendo limpeza étnica, massacres, deportações em massa e fome forçada pelo Império Otomano contra arménios étnicos, iniciada em 1915. Muitos fugiram para regiões como o Levante, onde milhares se estabeleceram. Estima-se que cerca de 150 mil arménios étnicos vivam no Líbano, principalmente em Bourj Hammoud e Anjar, onde continuam a falar a sua língua e dialectos e a praticar as suas tradições.
Pelo menos três vigílias tiveram lugar em Beirute este ano, um deles na Praça dos Mártires, no centro da cidade, onde milhares agitaram faixas e bandeiras arménias e libanesas. Se no ano passado houve posters de solidariedade para com os palestinianos devido ao genocídio em Gaza perpetrado por Israel desde Outubro de 2023, este ano muitos arménios Beirute mencionaram o polémico acordo de paz entre a Arménia e o Azerbaijão sobre a região disputada de Carabaque, assinado em Março. Carabaque foi anexada pelo exército azeri em 2023, obrigando mais de 100 mil arménios a fugir. Este acordo de paz determina que a Arménia agora reconheça a soberania azeri sobre Carabaque; no entanto, o acordo ainda não foi oficialmente assinado, e tanto a Turquia como o Azerbaijão não reconhecem a legitimidade do Genocídio Arménio. Aliás, muito poucos sistemas educativos em todo o mundo incluem a menção a este genocídio nos seus currículos escolares.
Até hoje, apenas 34 países (entre eles, Portugal) de 195 reconhecem oficialmente o Genocídio Arménio, um número reduzido que relembra os Arménios da necessidade da sua contínua autodeterminação e a recordação dos horrores que os seus antepassados sofreram há 110 anos atrás.
João Sousa, a partir do Líbano para a e-Global