Alou Badara Simpara, presidente do partido maliano Apelo Cidadão para o Sucesso da Transição (ACST) respondeu à e-Global sobre a actual situação política no Mali, bem como a segurança e os desafios económicos.
Como avalia no Mali o ambiente político, da segurança e da economia?
Alou Badara Simpara: A incerteza política actual [no Mali] exige que estejamos o mais atentos possível. Estamos a acompanhar de perto o calendário eleitoral e a implementação dos compromissos assumidos pelo governo de transição, nomeadamente no que diz respeito às condições de participação política e às garantias de segurança. A integridade deste processo é crucial e estamos a trabalhar para fortalecer a nossa posição estratégica, preparando campanhas baseadas em soluções concretas para os desafios socioeconómicos e de segurança do país.
Tais como a campanha de “Sensibilização e mobilização cidadã” em que o nosso partido esforça-se para sensibilizar e mobilizar os cidadãos malianos, pois o seu compromisso é crucial para legitimar o processo eleitoral.
A nossa abordagem consiste em propor um quadro inclusivo, onde as aspirações dos malianos estejam no centro do projecto de transição.
Em suma, o ACST considera este período como um teste decisivo. Posicionamo-nos como um actor fundamental e vigilante na renovação institucional, com uma visão centrada na paz duradoura, na estabilidade política e no desenvolvimento socioeconómico ao serviço de todos os malianos.
A nível político, todos aguardam que as eleições presidenciais e legislativas permitam ao país recuperar a sua legitimidade institucional. Como o seu partido está a gerir esta situação?
O nosso partido está ciente de que estas eleições representam uma oportunidade única para redefinir a trajectória política e institucional do Mali. Estamos activamente empenhados no processo para garantir que as eleições sejam transparentes, inclusivas e correspondam às expectativas do povo maliano. Essa responsabilidade é a base da nossa missão, pois permitirá ao país recuperar a estabilidade institucional e assegurar um retorno duradouro ao regime civil.
Que estratégias propõe para acabar com a crise?
Para superar a crise actual no Mali, é crucial combinar soluções de curto prazo que atendam às demandas imediatas de estabilidade e segurança com planos de longo prazo voltados para reformas estruturais profundas. Aqui estão algumas sugestões para cada uma dessas fases:
As soluções de Curto Prazo estão no nosso programa como a Estabilização Imediata da Segurança. Com a imperatividade de Intensificar os esforços para proteger o território nacional, especialmente nas áreas mais afectadas pelos conflitos armados. Isto pode incluir o aumento de recursos para as forças de segurança do Mali e o reforço de parcerias com aliados estratégicos.
É importante também desenvolver iniciativas de reconciliação comunitária para reduzir as tensões locais.
Mecanismos independentes de monitorização e observação, serão indispensáveis para assegurar a transparência das eleições
Dar garantias para um Processo Eleitoral Transparente, acelerando a preparação eleitoral com um apoio logístico nacional e internacional. Bem como o estabelecimento de mecanismos independentes de monitorização e observação, que serão indispensáveis para assegurar a transparência. É necessário também prever uma campanha de sensibilização para encorajar uma larga participação nas eleições.
A curto prazo prevemos também o Apoio de Emergência para Populações Vulneráveis, criando um plano de assistência humanitária para populações deslocadas e as regiões afectadas por conflitos. Este plano poderá incluir ajuda alimentar, serviços médicos e apoio económico aos agricultores e comerciantes afectados, para evitar o agravamento da pobreza e das tensões sociais.
Nas soluções de longo prazo, encaramos como fundamental uma reforma institucional e fortalecimento do Estado. Implementar reformas institucionais para fortalecer o Estado de direito e melhorar a transparência, a governação e a luta contra a corrupção, é essencial. Estas reformas devem incluir a descentralização para reforçar os poderes das regiões, que permitirá uma melhor inclusão e maior estabilidade.
O que consta especificamente no programa do seu partido?
O Desenvolvimento Económico e Emprego. É necessário investir em projectos de desenvolvimento sustentável para diversificar a economia e reduzir a dependência aos recursos naturais. Nunca esquecendo a agricultura, as infraestruturas e as energias renováveis como sectores com elevado potencial de criação de emprego. Ao mesmo tempo, seria importante incentivar o empreendedorismo local e as PME para impulsionar a economia local.
Investir também num sistema educativo inclusivo que promova a sensibilização para os valores da tolerância, unidade e paz. Isto permitiria construir uma coesão social duradoura, promovendo uma geração de cidadãos empenhados no desenvolvimento do país. Os programas educativos devem ser adaptados às realidades locais e incluir a educação cívica para fortalecer a democracia.
Diálogo Inclusivo e Reconciliação Nacional é igualmente fundamental, em que será previsto estabelecer um diálogo nacional regular, incluindo todas as partes interessadas (políticos, comunidades locais, organizações da sociedade civil, etc.) para resolver conflitos e prevenir o surgimento de novas tensões. Este diálogo deverá ser acompanhado por um processo de reconciliação e de justiça transicional, para curar as feridas do passado e construir uma paz duradoura.
Ao combinar estas medidas de curto e longo prazo, o Mali será capaz de estabilizar a situação actual e lançar as bases para um futuro mais próspero e pacífico.
Entre o sul e o norte do Mali, há um divórcio de difícil reconciliação. Qual a melhor estratégia para aproximar os dois beligerantes?
A divisão entre o norte e o sul do Mali constitui um grande desafio para a paz e a estabilidade nacional, e corrigir esta divisão requer soluções a longo prazo que dependam da reconciliação, da justiça, do desenvolvimento inclusivo e da reconstrução da confiança entre as comunidades.
É essencial estabelecer um diálogo nacional mais amplo, que reúna todas as partes interessadas.
Por esse motivo propomos promover um Diálogo Nacional Inclusivo e Sustentável. É essencial estabelecer um diálogo nacional mais amplo, que reúna todas as partes interessadas – líderes comunitários, representantes políticos, grupos armados, sociedade civil e jovens. Este diálogo deverá ser permanente e não ad hoc, a fim que permita abordar questões substantivas relacionadas com queixas históricas e com as necessidades específicas das regiões Norte e Sul. Este processo deve ser apoiado por facilitadores neutros e pode incluir mediadores internacionais para construir confiança.
É necessário também o fortalecimento da Descentralização e da Autonomia Local para responder às aspirações das populações locais, devendo ser promovida uma verdadeira descentralização, permitindo que as regiões tenham um maior controlo sobre os seus recursos e governação. Isto requer maior autonomia na gestão dos serviços públicos (educação, saúde, segurança local) e dos recursos naturais. Esta transferência de poder ajudará a garantir que cada região se sinta representada e respeitada, o que reduzirá as tensões e as exigências separatistas.
Assim como a aplicação de um desenvolvimento Económico Equitativo e Infraestruturas Conectadas. A disparidade económica entre o Norte e o Sul é uma fonte de frustrações. O governo deve implementar programas de desenvolvimento que satisfaçam as necessidades locais, promovendo simultaneamente investimentos iguais em infra-estruturas, agricultura, educação e cuidados de saúde. Os corredores económicos que ligam o norte e o sul através de estradas, redes de transportes e comércio reforçarão os laços económicos e criarão interdependências benéficas.
Devem ser desencadeados inquéritos e julgamentos imparciais aos abusos cometidos por todas as partes.
Uma Justiça Transicional e Reconciliação, é essencial. A aplicação da justiça transicional é crucial para resolver queixas passadas e restabelecer a confiança. Devem ser desencadeados inquéritos e julgamentos imparciais aos abusos cometidos por todas as partes, acompanhados de mecanismos de reparação para as vítimas. Os processos de reconciliação, tais como cerimónias comunitárias e comités da verdade, poderiam desempenhar um papel importante na promoção da compreensão mútua e na restauração dos laços sociais entre regiões.
Também, é necessário fortalecer a Educação e a Cultura Comum. É fundamental investir numa educação inclusiva que valorize as identidades locais e, ao mesmo tempo, que promova uma cultura de tolerância e de unidade nacional. Os programas escolares devem reflectir a história e as realidades das diferentes regiões do Mali, para cada geração crescer com compreensão e respeito pela diversidade cultural. Iniciativas culturais, intercâmbios educativos e festivais interculturais também poderiam ajudar a aproximar as populações.
Por fim, a inclusão de Grupos Armados num quadro legal e a reforma do sector da Segurança. Para construir uma paz duradoura, é importante incluir os antigos combatentes num quadro jurídico, seja através da sua integração nas forças armadas nacionais ou em programas de desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR). A reforma do sector da segurança deve ter em conta as realidades locais e os recrutamentos das comunidades locais também podem contribuir para a segurança partilhada impondo um sentimento de protecção mútua.
Ao integrar estas abordagens numa estratégia de longo prazo, o Mali poderá reduzir as divisões entre o norte e o sul e construir uma nação mais unida, onde cada região se sinta valorizada e envolvida num projecto comum.