“Direito de Resposta” de Solange Morin a artigo sobre o processo de cedência de terreno da Ilha de Rubane

Reunião a 24 de Maio de Solange Morin com a população de Enéne

Após a publicação do artigo “Guiné-Bissau: A autoridade oculta processo de cedência de terreno da Ilha de Rubane”, publicado a 23 de Maio de 2020, a gerente e investidora no hotel Ponta Anchaca, Solange Morin, através de correio electrónico de 25 de Maio de 2020 fez apelo ao “Direito de Resposta”:

 

Gostaria de exercer o meu direito de resposta relativamente às acusações escandalosas que foram emitidas no artigo de dia 23 de Maio na publicação “E-Global” sob o título “ a autoridade oculta processo de cedência de terreno da Ilha de Rubane”, da autoria de Laurena Carvalho Hamelberg.

O meu nome é Solange Morin, francesa e residente na Guiné-Bissau desde 2004. Sou gerente, investidora e criadora do Ponta Anchaca, um hotel de luxo e de charme localizado na praia de Rubane. Vim para a Guiné-Bissau há dezassete anos e apaixonei-me por este país, pela sua biodiversidade única e pelo seu povo caloroso. Ainda proprietária de dois hotéis no Senegal, contactei o governo guineense para investir e criar um belo hotel de luxo num local privilegiado da Guiné-Bissau, o Arquipélago dos Bijagós.

Nessa altura foi o Senhor Conduto, Ministro do Turismo e do Território, que me ajudou a obter todos os documentos para tornar legal o meu projeto neste país. Levou anos até que o projeto começasse, porque todas as autorizações passaram por diferentes ministérios, incluindo o famoso estudo de impacto ambiental e social. Foi uma longa viagem burocrática, mas hoje reconheço toda a sua utilidade. Gostaria de agradecer novamente às autoridades governamentais e administrativas que me acompanharam e acreditaram neste projeto hoteleiro de ecoturismo muito inovador na altura.

Por outro lado, respeitei a lei consuetudinária tradicional dos Bijagós porque estas terras eram exploradas pelas populações locais e propriedade sua, segundo a tradição. Em 2003 foi firmado um acordo escrito com Enéne, uma aldeia com casas construídas de terra e palha fina que acabavam por ruir todos os anos na estação das chuvas, causando um aumento da malária e uma enorme falta de higiene. Foi por isso que insisti em dotar a aldeia de chapas de zinco (e não dar dinheiro, que é frequentemente uma fonte de discórdia) e fiz questão de ajudar a reconstruir a aldeia com mão de obra dos meus próprios carpinteiros. Desde 2007 a aldeia foi totalmente remodelada e conta com cerca de duas dezenas de casas.

A relação com a população é muito estreita, uma vez que mais de 35 deles trabalham atualmente no hotel Ponta Anchaca, sem contar com todo o impacto positivo que o hotel tem na economia local e na vida da aldeia. São eles que fornecem os legumes, o peixe, o carvão vegetal, que vendem o artesanato aos turistas, que colocam a palha nos telhados, fazem a limpeza do aeródromo de Bubaque e dos jardins do hotel após a época das chuvas.

O hotel assegura assistência de primeiros socorros, transporte entre Bubaque e Rubane, dá assistência em caso de óbito de familiares, fornece água potável durante os 5 meses do ano em que a população vai cultivar o arroz na ilha, promoveu recentemente a ponte entre esta aldeia e uma ONG portuguesa para que ali seja instalada uma descascadora de arroz à disposição da população, promove grupos culturais locais, apoia a educação de mais de 100 crianças dos 4 aos 8 anos de várias ilhas que inclusivamente ficaram alojados e foram alimentados no hotel em 2012, no contexto de um golpe de estado, entre abril e agosto, momento de que guardo excelentes recordações.

Infelizmente, era sobre isso que esta reportagem deveria ter incidido. A senhora Lorena Carvalho Hamelberg, uma jornalista freelancer muito jovem, deveria ter-se atido ao código deontológico jornalístico e verificar as afirmações que profere antes de as publicar. Essa é a prerrogativa de um jornalista para não se transformar num vetor de difusão de notícias falsas. A minha resposta será breve, porque me reservo o direito de prosseguir com uma ação penal.

Recebi ontem no Ponta Anchaca o Régulo da Tabanca de Enéne, o Presidente do Comité, o Homem Grande e a Mulher Grande, tendo-lhes mostrado o artigo em causa. Ceni e Ramos, as duas pessoas citadas no artigo, referiram que a jornalista os abordou perguntando quais os conflitos existentes entre o hotel e a população desde 2003. Apesar de terem afirmado claramente que as relações com o Hotel Ponta Anchaca eram excelentes, o único objetivo da jornalista pareceu ser dar ideia de existir uma forte animosidade entre a população tradicional da terra e os investidores privados, o que revela falta de escrúpulos, falta de objetividade e uma tentativa de manchar a imagem deste setor já de si tão frágil e manchar a imagem de uma pessoa que acredita firmemente que a Guiné-Bissau é muito mais que estas manipulações cujo único objetivo é aparecer nas redes sociais, numa mistura do que é verdadeiro e falso.

Se e quando necessário, demonstrarei em tribunal todos os pontos levantados neste artigo que não transmitem a pura verdade.A administração de Bubaque e o atual administrador, Francisco Moreira, poderão fornecer todas as informações e provas da legalidade do meu processo, confirmar que nenhuma queixa foi apresentada pela população de Enéne e até dar testemunho das nossas excelentes relações.

Gostaria de terminar, insistindo na dura realidade do momento, relacionado com esta pandemia da Covid-19 que nos afetou a todos. Desde o dia 17 de março tudo parou, foram cancelados seminários e deixámos de receber turistas. No entanto, o hotel Ponta Anchaca continua, apesar das dificuldades, a manter-se com 20 funcionários e este magnífico resort está pronto para abrir a qualquer momento as suas portas e dar a conhecer aos turistas o património da Guiné-Bissau. Até à data, o Arquipélago de Bijagós continua a ser um dos poucos locais do planeta onde foram declarados zero casos de coronavírus.

Para concluir a reunião de esclarecimento de ontem com a população de Enéne visada na reportagem, ouvi desta “minha família” o seguinte ”venha para a aldeia, faremos uma cerimónia em que estaremos juntos, e vamos protegê-la”. O que me fez esboçar um pequeno sorriso… Esta é a sua maneira de ser e é disto que eu gosto.

Solange MORIN

3 Comments

  1. Alberto André Sebastião Iocha

    Eu sou o filho dessa querida aldeia(ENÉNE). Eu juro que essa Senhora SOLANGE MORIN é grande EXPLORADA dessa POPULAÇÃO de ENÉNE. Sem ter a PIEDADE deles.
    Por outro lado é de que essa publicação da Senhora está cheio de facilidades.
    Atualmente os trabalhadores dessa aldeia são menores de que sete (07) que estão a trabalhar com salário máximo de 45.000 mil Franco cefa mensalmente…

  2. Alexandre António Oncunho, membro da Comunidade de Secção de Bijante

    Lamento bastante,a falta de verdade na resposta dada pela Solange Morin,Empresa frencesa residente na ilha de Rubane,num hotel presumível que pertence , falou tudo,menos a verdade !
    Disse que conte neste momento com um número de 35 trabalhadores , todos eles da Comunidade de Enen, isso não corresponde mínimamente a verdade , mas são menos de 10 trabalhadores da comunidade de Enen.
    No que diz respeito ao contrato de Cedência de terreno entre Ela e a comunidade de Enen não existia nada , até 2019…o mais paradoxal e lamentável foi uma afirmação,em como Ela ajuda as crianças da aldeia de Enen , custeando transporte delas durante 5 nesses , aquilo não devia ser afirmação da Senhora Morin,por que ela não permite ninguém permanecer na praia , pq julga ser a dono dela , desconhecendo absolutamente as leis vigente no País !
    Disse ainda teve apoio de Ex-Ministro do Turismo e do Ordenamento do Território, Francisco Conduto de Pina,em 2003/2004,nessa altura , Pina não fazia parte do Governo,mas desempenhava , as funções do Ministro do Turismo e do Ordenamento do Território,em 2006/2007,no Governo de Artides Gomes ,e nessa época grande problema entre Ela e o ministro do Turismo, porque este último que ela tratasse de organizar todos documentos e respeitar as leis vigente no país !
    Portanto,a Dona Solange deve aceitar q cometeu erros imperdoáveis com a comunidade de Enen,por isso tem que pedir desculpas à a Aldeia de Enen , é importante realçar de que as pessoas entrevistadas na Comunidade de Enen, reafirmaram as palavras e lamentaram a forma como a grande Laurena não teceu ao público todas as conversas deles , e se há alguém que nos possa excibir contrato de Cedência celebrado entre as parte , que o-faça,sem demora !!
    Pondero falar de outros assuntos , fa-lo ia numa outra oportunidade .Basta a exploração no Século 2020 !

    1. Faustino da Silva

      Olá vocês falam da senhora de Rubane, mas não vêem que ninguém respeita as regras. No hotel de Orango (que é Parque Nacional) , estão a construir mais 6 casas e nunca apresentaram o Manifesto de Impacto Ambiental. Esta senhora si o apresentou. É em Orango são nacionales, com apoio do Ibap.Entao falen também disso. Ou são periodistas Nacionalista?

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