As autoridades das Nações Unidas alertaram esta quarta-feira, no Conselho de Segurança, para uma “forte erosão da autoridade estatal” no Haiti, onde a violência protagonizada por gangues armadas continua a alastrar-se a novas regiões do país.
Porto Príncipe, a capital, está praticamente sob domínio destas redes criminosas, que agora avançam também para o norte, provocando deslocações em massa e agravando a crise humanitária.
Segundo Miroslav Jenca, secretário-geral-adjunto da ONU para Assuntos Políticos, o colapso total da presença do Estado haitiano poderá concretizar-se sem apoio urgente da comunidade internacional. O município de La Chapelle foi recentemente tomado por grupos armados, forçando a fuga de quase 9 mil residentes. Em paralelo, o uso crescente de armamento militar e drones, tanto por gangues como pelas forças policiais, levanta sérias preocupações quanto à segurança da população civil.
A Missão Multinacional de Apoio à Segurança, liderada pelo Quénia, completou um ano de operações no país, mas ainda não conseguiu restaurar a autoridade estatal. A ONU sublinha a necessidade urgente de reforço logístico e financeiro, incluindo novas contribuições para o Fundo Fiduciário da missão, para evitar o agravamento da instabilidade.
A violência já provocou, só este ano, mais de 4 mil homicídios e 1,3 milhões de deslocados internos. Casos de violência sexual, usados como forma de controlo por gangues, também aumentaram significativamente.
Apesar do apoio da ONU a uma transição política até 2026, com referendo constitucional e eleições previstas, o cenário de insegurança ameaça inviabilizar qualquer progresso democrático no país caribenho.