“Indústria da mentira” e abuso de poder ameaçam democracia na Guiné-Bissau

A Rede Oeste Africana para Edificação da Paz (WANEP-GB) considera que a Guiné-Bissau já ultrapassou a fase de alerta e vive actualmente “a erosão da democracia, devido à substituição do debate político pela indústria da mentira, da intriga, da manipulação de valores pelo abuso de poder”.

A denúncia foi feita esta segunda-feira, 11 de Agosto, pela coordenadora nacional da organização, Denise dos Santos Indeque, na comunicação quinzenal tornada pública pela ONG. No documento, a WANEP sublinha que “a justiça é instrumentalizada e utilizada para perseguir adversários políticos ou proteger aliados, minando a credibilidade das instituições e a confiança na justiça”.

Segundo a responsável, “quando um país é tratado como um brinquedo por políticos, a gestão pública transforma-se numa manipulação e exploração. O cargo público é usado para benefício próprio, favorecendo amigos e familiares. O desvio de verbas públicas, destinadas a áreas essenciais como saúde, educação e infra-estruturas, é sempre feito a olho nu e em plena luz do dia. O desmantelamento de políticas públicas e a destruição de programas sociais e políticas que visam o bem-estar da população tornam-se prioridade para políticos com o intuito de enfraquecer as instituições e facilitar a exploração ilegal da riqueza do Estado”.

A WANEP-GB refere ainda que “a denúncia pela sociedade civil de falta de transparência na gestão e prestação de contas sobre as acções do governo é passível de repressão policial e intimidação” e que “o desrespeito e a desvalorização das instituições democráticas tornaram-se a regra”.

Na sua intervenção, Denise dos Santos frisou que “a comunicação é usada para a manipulação da opinião pública e justificar acções questionáveis”, apontando que “o jogo político instalado no país de uns tempos para cá está manifestando uma obsessão descontrolada por políticos de se manter ou chegar ao poder a todo custo”.

A coordenadora sublinhou que “um político é um cidadão que assumiu a responsabilidade de realizar o interesse público” e que, por isso, “não há responsabilidade histórica maior que a de fazer valer e realizar a vontade e o interesse colectivo”.

Para a organização sub-regional, “torna-se maior a responsabilidade do político em agir eticamente” e “mais urgente ainda trabalhar na necessidade de resgatar e restaurar a dignidade ética da vida pública, devido às suas consequências que se traduzem na banalização do aparelho de Estado e a polarização da sociedade”.

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