Guiné-Bissau: Sissoco põe em xeque Braima Camará e coloca em risco o futuro da API

GB Madem Braima Camara

O cenário político guineense pode estar prestes a sofrer uma das suas maiores transformações. Braima Camará, coordenador de uma das alas do MADEM-G15, fez declarações que geraram controvérsia ao afirmar: “Eu e Umaro Sissoco Embaló temos a obrigação de nos reconciliar”.

Com este anúncio, novas cisões partidárias podem surgir, alianças serão reconfiguradas e a coligação Aliança Patriótica Inclusiva (API-Cabas Garandi) corre o risco de fragmentação, especialmente com a possível saída de Braima Camará.

Após quase dois anos de disputas, Umaro Sissoco Embaló conseguiu pressionar Braima Camará a recuar e considerar que a reconciliação com o actual Presidente da República como a única via para alcançar os seus objectivos políticos. No entanto, essa reconciliação depende exclusivamente da vontade de Embaló e pode ter implicações políticas graves para ambas as partes. Entre os apoiantes de Camará e Embaló, há resistência à ideia, evidenciando divisões internas nos seus campos políticos.

A API-Cabas Garandi, coligação da qual Braima Camará é membro activo, já realizou duas reuniões para discutir os impactos dessa reconciliação. Contudo, os resultados das reuniões permanecem desconhecidos. Líderes da coligação acusam Camará de “traição” ao projecto político da API, que consideram sustentável e estratégico.

Em discurso proferido a 6 de Abril, Braima Camará afirmou que o MADEM-G15 só terá força suficiente para vencer se se unir a Umaro Sissoco Embaló. Apesar dessa abertura para o diálogo, Camará deixou claro que não abrirá mão da liderança do MADEM-G15: “Fui eleito e não vou abdicar”, declarou.

A 14 de Abril, de regresso ao país, o Presidente Embaló comentou sobre a manifestação de vontade de reconciliação por parte de Camará. Embaló afirmou: “Se alguém diz que quer reconciliar comigo, não há como negar”, mas não poupou criticas sobre as decisões anteriores de Camará, como a sua aproximação ao PAIGC, classificando-as de “teatro” sem viabilidade prática.

A decisão de reconciliação surpreendeu alguns observadores políticos e justificou análises críticas sobre o futuro da API-Cabas Garandi. A reconciliação pode levar à indicação de Embaló como candidato presidencial pela coligação, bloqueando as aspirações de Nuno Nabian, que se considera o candidato natural da API. Além disso, uma possível fusão entre a API-Cabas Garandi e a Plataforma Republicana ‘Nô Kumpu Guiné’, apoiada pelos aliados a Embaló, parece improvável devido às tensões entre os partidos integrantes.

Braima Camará evitou abordar estas questões durante o seu discurso sobre reconciliação e optou por enviar um recado directo aos seus apoiantes: “Quem não estiver disponível para a reconciliação deve afastar-se”. Disse também que: “Se Umaro Sissoco Embaló me traiu, o problema é dele. Deixo-o com Deus. Eu perdoei todos os que erraram comigo”.

Analistas políticos, como Fransual Dias e Luís Vaz Martins, acreditam que Embaló saiu fortalecido nesse processo ao expor Camará em xeque. Segundo Martins: “Concretizado ou não [o acordo], Braima Camará está politicamente acabado”.

Ciente das repercussões dessa decisão, Braima Camará apelou à prudência dos envolvidos no processo político. O desenrolar dos acontecimentos poderá redesenhar o mapa político da Guiné-Bissau nos próximos meses.

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